segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Acusação de Cunha contra Moreira Franco preocupa Planalto

As acusações feitas pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao secretário executivo do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), Moreira Franco, causaram preocupação no Palácio do Planalto.

Embora auxiliares do presidente Michel Temer atribuam as denúncias a uma “vingança” de Cunha, a avaliação foi a de que as suspeitas levantadas por ele provocam constrangimento no momento em que Moreira Franco participa da comitiva presidencial, na viagem a Nova York, justamente para apresentar o programa de concessões a potenciais investidores.

Dois auxiliares de Temer disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que, na semana passada, Cunha já havia dado sinais de que faria tudo para envolver Moreira Franco em irregularidades na obra do Porto Maravilha — projeto de revitalização da área portuária do Rio, que enfrenta denúncias de corrupção.

O secretário assegurou ao presidente, no entanto, que estava “tranquilo” por não ter “nada a esconder”. Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele não quis responder às acusações.

No Planalto, a percepção é a de que Cunha quer se vingar de Moreira Franco por atribuir a ele a articulação política para cassar o seu mandato. A operação teria começado com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), genro do secretário executivo do PPI, para a presidência da Câmara, derrotando o grupo do peemedebista.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada no domingo (18) o deputado cassado afirmou que o programa de concessões do governo Temer “nasce sob suspeição”, com risco de escândalo.

— Na hora em que as investigações avançarem, vai ficar muito difícil a permanência do Moreira no governo.

Ele acusou Moreira Franco de estar por trás de irregularidades no FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que é administrado pela Caixa e financia obras de infraestrutura. Segundo Cunha, a operação de financiamento do Porto Maravilha foi montada por Moreira Franco.

O secretário executivo do PPI ocupou a vice-presidência de Fundos e Loterias da Caixa de 2007 a 2010, antes de Fábio Cleto, que denunciou Cunha ao fazer delação premiada. O empresário Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, também afirmou à Procuradoria-Geral da República, no âmbito das investigações da Lava Jato, que Cunha cobrou propina de R$ 52 milhões em troca da liberação de verba do FI-FGTS para o Porto Maravilha. O deputado cassado classificou como “surreal” a acusação.

Mágoa

Parlamentares governistas interpretaram as afirmações de Cunha como fruto da mágoa de quem acaba de ser cassado. “Acho que ele está um tanto magoado, isso é natural. Eduardo Cunha é um homem ressentido, que está fora do processo político”, disse o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). Pauderney também saiu em defesa da eleição de Maia para a presidência da Câmara. “O Rodrigo se viabilizou por ele.”

Maia foi procurado, mas não comentou as declarações do peemedebista. A leitura que aliados do governo fizeram é que, ao eleger Moreira Franco como alvo, Cunha mostra que tem “bala para atirar”, só resta saber se ele tem provas a apresentar. Para um líder da base aliada, Cunha “mata dois coelhos (Maia e Moreira) com uma paulada só”.

Para o vice-líder da bancada do PT, Paulo Pimenta (RS), Cunha sinaliza que não está ressentido apenas com “traidores” e desafetos, mas que tem muito a dizer sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o que pode comprometer Temer.

— Foi um sinal para o Moreira Franco e ao governo Temer que ele [Cunha] não está morto.

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