sexta-feira, 19 de abril de 2024

CPT lança revista e documentário sobre o Cerrado em São Luís

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lança nesta terça-feira (29), às 19h30, no Sindicato dos Bancários do Maranhão, em São Luís, duas importantes produções sobre o Cerrado brasileiro: a primeira edição da Revista Cerrados e o documentário Cerrado: Rostos, Vidas e Identidades. “Os Cerrados, no plural, é a maneira mais adequada para se referir a um dos ecossistemas mais ricos do mundo e fundamentais não somente para quem vive nesse território, mas também para as populações de outras regiões brasileiras e da América Latina”, explica, na apresentação da revista, a coordenação da Articulação das CPT’s do Cerrado, projeto da Pastoral da Terra que reúne os seus Regionais presentes neste bioma.

Participam do evento Diana Aguiar, doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessora da Federação dos Órgãos para a Assistência Social e Educacional (FASE); Maurício Correia, membro da coordenação da Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais no Estado da Bahia (AATR); Isolete Wichinieski, coordenadora nacional da CPT, e representantes de comunidades do Cerrado maranhense.

Pesquisadores e pesquisadoras do Cerrado, Altair Sales, Maurício Correia, Diana Aguiar, Samuel Britto, Marcela Vecchione, Fábio Pitta e Maria Luisa Mendonça evidenciam, nas análises da publicação, as ameaças de uma expansão desenfreada do capital nacional e internacional sobre os modos de vida dos povos e comunidades do Cerrado. Uma ofensiva que se dá em diversos níveis, tais como: a violência física, as ameaças de morte, a destruição de bens, a grilagem de terras e das águas, as contaminações do solo, das águas e das pessoas através dos agrotóxicos, o desmatamento, e a pressão por flexibilização de direitos territoriais e ambientais.

A Revista Cerrados analisa ainda a expansão do agro e hidronegócio na região denominada pelo governo federal de MATOPIBA (que engloba áreas de Cerrado dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e a relação com outras Savanas na África e na América do Sul, como modelo de “desenvolvimento” a ser implementado em outras localidades. Todavia, em contraponto a esse cenário conflituoso, a publicação mostra a auto-organização e as resistências dos povos dos Cerrados na defesa de seus territórios, dos bens comuns e a construção contínua do Bem Viver.

O documentário Cerrado: Rostos, Vidas e Identidades, como o próprio nome sugere, retrata um pouco da diversidade dos Cerrados que está presente em cada rosto de seus povos e comunidades tradicionais: indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, camponeses, fundo e fecho de pasto, retireiros do Araguaia, vazanteiros e tantos outros. Esses são os guardiões e as guardiãs desse espaço de vida chamado Cerrado. Os saberes ancestrais dessas pessoas constituem a sociobiodiversidade do bioma, e o cuidado com essa Casa Comum e o manejo consciente garantem a resiliência dos Cerrados. Ao fim da produção, essas pessoas que vivenciam dia a dia o Cerrado brasileiro, manifestam suas expectativas e anseios em relação a esse espaço de vida.

“A Revista Cerrados e o documentário ‘Cerrado: Rostos, Vidas e Identidades’ são instrumentos que contribuem para a leitura da realidade do Cerrado hoje. Também para que a sociedade possa melhor conhecer esse importante bioma para o Brasil e para a América do Sul. Além de ser uma ferramenta de resistência para os povos e comunidades tradicionais que têm se empenhado na defesa do Cerrado”, avalia Wichinieski.

 Maranhão

O Maranhão é um estado emblemático para a realização do lançamento dessas duas produções, pois é um lugar onde os dois maiores biomas do Brasil se encontram: o Cerrado e a Amazônia. E essa convergência entre os biomas resulta em uma riqueza cultural, de povos e comunidades, e de fauna e flora. Entretanto, essa unidade da federação é, também, palco de graves conflitos socioambientais, seja no campo ou nas cidades.

Em 2016, em análise para a CPT intitulada “Os Cerrados e os Fronts do Agronegócio no Brasil”, o Coletivo LEMTO (Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades) da Universidade Federal Fluminense (UFF) apontou que, quando considerados os biomas, o Cerrado, que detém cerca de 14,9% da população rural do país, tem a segunda maior densidade de conflitos por terra no campo brasileiro. Entre 2000 e 2016, cerca de 24,1% das localidades em que ocorreram conflitos por terra no Brasil estavam nos Cerrados.

“Ainda que esses números sejam inferiores ao número de localidades em conflitos na Mata Atlântica e na Amazônia, 25,5% e 38,9%, respectivamente, consideremos que a Mata Atlântica detém uma área de 13% da área total do país e a Amazônia corresponda a uma área de 49,9% da área total do país. Ou seja, os Cerrados tiveram 24,1% dos conflitos sobre uma área total de 25,7%, enquanto a Mata Atlântica teve cerca de 25,5% de localidades em conflito sobre uma área de 13% e a Amazônia, 38,9% das localidades em conflito numa área de 49,29%”, destaca o laboratório de estudos.

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