O Brasil tem vivido um arcabouço extremo de palavras. Embora a palavra “ladrão”, ou “roubo” sejam das mais escritas e pronunciadas ultimamente, são, digamos, curtas e grossas. Temos também o léxico inerente aos pronunciamentos telefônicos de certo senador, terminologias de deputados da Força, entre ex-presidentes de nem tão fino trato com a língua de Camões.
Há alguns anos frequentando uma roda de juristas bem humorados, ouvi, de um promotor de justiça aposentado, que depois virou vereador, uma muito boa, que nem importa o tanto de verdade que carregue em essência ou substância.
Contava o promotor, que no início de um júri em algum município distante, o representante do parquet foi interpelado pelo representante do judiciário:
– Dr. Sinto informar, mas assim, o senhor não poderá interceder no julgamento.
– Como assim, excelência?
– O senhor não está adequadamente vestido para a audiência.
– Desculpe, excelência, mas estou de terno e gravata, e adequadamente, paramentado para o exercício da justiça, no que compete ao Ministério Público.
– Não senhor! Cadê a beca?
– Data vênia, novamente me desculpo, mas não há em nenhuma parte dos códigos ou qualquer outra lei, que obrigue o uso da beca.
– O digníssimo promotor deveria se atentar mais aos códigos, uma vez que está expressa e claramente colocada no Art . 156, do Código de processo Civil que “Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo”.
Segundo nosso personagem, ele foi atrás de uma beca e deixou a discussão pra lá.
Mas isso nem importa nestes tempos de delações, de aposentadorias compulsórias (que penalidade!), de prisões domiciliares, tornozeleiras em cachorros (canis lúpus familiares – mesmo!) e processos mais intermináveis e surpreendentes quanto aquele do Kafka.
Mas, voltando para nosso vernáculo, embora embecado, temos vivido tempos de palavras duras, como certos diálogos entre políticos e empresários, granpeados pela Polícia Federal:
Político – Alô, fulano… Que #$%@&*** é essa de o deputado X abrir a $%###@¨&* da boca em Curitiba?
Empresário – Não sei do que vc tá falando
Político – Desse $%#&% dessa delação daquele filho da %&¨$#@
Empresário – Ah… sei
Político – Então, diz pra esse c$%#@#$% que vou mandar ele tomar no *& se não retirar o que disse.
…
Enquanto isso os diálogos (muitos em Libras, entre deputados e senadores bem cheios de voz) vão desenhando os destinos do Brasil. Mas se continuarmos respirando esse ar que exala do planalto central vamos acabar com um pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico*, que é a maior palavra da língua portuguesa; talvez um dos poucos palavrões ainda não pronunciados por aquele político.
* PNEUMOULTRAMICROSCOPICOSSILICOVULCANOCONIÓTICO
E essa é a maior palavra da língua portuguesa! Ela tem 46 letras e é usada para nomear uma doença pulmonar causada pela aspiração de cinzas vulcânicas.