quarta-feira, 24 de abril de 2024

Fenômeno aos 19, João gomes já tem cachê que chega a R$ 400 mil e diz que ficha não caiu: ‘será que sou eu’?

Há 50 anos, Belchior ganhava um festival estudantil de música com “Na Hora do Almoço”. A letra, um grito imaginário de socorro de um jovem diante do silêncio de uma família à mesa, com seus segredos e suas mazelas, tem preenchido alguns momentos reflexivos de João Gomes na estrada.

O atual fenômeno do piseiro, número 1 nas plataformas digitais, talvez nem imaginasse que os versos que cita, cantando (“minha avó me chama. É hora do almoço”), teriam mais em comum com sua vida do que a parte que entoa com seu vozeirão grave, que parece carregar junto da novidade que ela representa no cenário do forró, uma melancolia, algo meio empoeirado, que nem terra seca.

“Choro quando escuto essa música… Belchior, de forma geral. Não que eu esteja triste, não. Pelo contrário. Estou muito feliz. Feliz de verdade com tudo que estamos conquistando. Mas são momentos em que lembro o que passei para chegar até aqui, da família, e passa um filme”, observa ele, que virou fã do cantor cearense através dos rappers que escuta.

Aos 19 anos, João não venceu um concurso de música como uma de suas referências, mas estourou. Como representante de uma geração em que o mundo digital é a grande vitrine, foi fazendo vídeos com um celular caquerado (”só filmava de dia”) que ele ganhou as primeiras curtidas de colegas, músicos e público na região de Petrolina, em Pernambuco, para onde se mudou bem pequeno.

Entre um vídeo e outro, João passou a cantar em festas regionais, como as vaquejadas. “A gente ia na cara e coragem mesmo. Meu amigo Mario com uma sanfoninha velha, um ou outro amigo com instrumentos e eu cantando. Na primeira vez, a gente só sabia três músicas. Acabava, e a gente trocava de caminhão (na vaquejada é comum que os donos de animais tenham caminhões para transporte dos cavalos e nas festas os transformem em minipalcos). Devo ter cantado nuns 50 caminhões, viu?”, diverte-se.

O nome de João começou a correr o circuito dos vaqueiros. Além de cantar, ele compõe. E a primeira escrita, “Eu Tenho a Senha”, tinha sido gravada por Tarcisio do Acordeón, bem famoso no eixo Norte-Nordeste. Ou seja, faltava o menino aparecer e alguém para acreditar. “Eu tinha uma promessa do empresário, que me pedia sempre paciência. Às vezes, pensava em voltar pra lavoura, terminar meus estudos em agropecuária e esquecer disso tudo. Mas a música sempre falou mais alto dentro de mim, eu nem sei dizer o motivo. Eu era criança, ouvia o rádio e pensava: ‘Será que um dia vou ter capacidade de fazer música assim?”, relembra.

Teve. Meio cabisbaixo, desacreditado em si mesmo,ouviu do pai a frase que transformaria a ansiedade em inspiração. “Ele viu que eu estava meio triste em ter vendido a primeira música e ainda não ter gravado o CD prometido, e me falou: ‘Não pense nisso, não. Que daqui a pouco você escreve outra e vai ser melhor que essa ainda”. Parece que ele tirou um peso de mim”, conta

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