quinta-feira, 28 de março de 2024

Fortuna de Roseana Sarney volta à tona com prisão de Julian Assange

Imagem de 2014 no Palácio dos Leões, quando a então governadora Roseana Sarney renunciou três semanas antes da posse de Flávio Dino, após seu clã político perder as eleições (Foto: Handson Chagas/Governo do Maranhão)

Por Saulo Marino

Após a polêmica prisão do jornalista Julian Assenge, na manhã de quinta-feira (11), na embaixada do Equador em Londres, o Wikileaks tornou público centenas de documentos sigilosos, entre eles os que revelam que a ex-governadora Roseana Sarney (MDB), e seu marido Jorge Murad, fizeram operações secretas milionárias no banco Julius Baer, nas Ilhas do Canal e nas Ilhas Virgens, dois dos mais famosos paraísos fiscais do mundo.

Os documentos não são inéditos e vazaram pelas mãos do ex-banqueiro suíço Rudolf Elmer, demitido do Julius Baer em 2002. Em 2007 ele repassou o primeiro conjunto de informações ao Wikileaks. Na época, alegou que planejava derrubar um esquema de evasão fiscal. Em 2011, antes de ser detido na suíça por “violação de segredo bancário”, disponibilizou mais dois lotes de dados, que diziam respeito a clientes de ao menos três instituições financeiras, cobrindo um período entre 1990 e 2009.

Entre os mais de 2 mil nomes de empresários e políticos envolvidos no esquema divulgado pelo Wikileaks, estão o de Roseana e Murad, que aparecem associados à Coronado Trust-JBTC, uma empresa aberta nas Ilhas Virgens para gerenciar a Coronado Trust e, assim, dificultar a identificação dos verdadeiros donos do negócio. Inicialmente, um depósito de 10 mil dólares foi registrado em setembro de 1993.

A imprensa não deu maior atenção ao caso na época. O jornal impresso O Globo, do mesmo grupo da TV Mirante, que por sua vez é de propriedade da família Sarney, publicou reportagem em 2011 explicando o depósito. Segundo o jornal, os advogados de Roseana e Murad confirmaram que o casal fundou a Coronado Trust em 1993 para protegerem o patrimônio da família, após Murad ter tido uma filha fora do casamento. A empresa teria sido mantida até 1999, mas não teria movimentado nenhum valor.

Os documentos do Wikileaks, porém, dão conta de que ao menos até 1999 Roseana possuía espalhado pelo mundo 150 milhões de dólares em offshores (contas abertas em países com menor tributação). O nome do advogado José Brafman, amigo Murad, também aparece nas denúncias.

“Autoridades brasileiras devem estar curiosas sobre a quantidade de companhias criadas por um advogado do Rio de Janeiro chamado José Brafman. Os arquivos mostram conexões via Brafman e Roseana Sarney. Ela era provável candidata à presidência do Brasil em 2002, mas desistiu depois que a polícia encontrou US$ 570 mil em sua casa”, diz um trecho do documento vazado.

EUA NA AMÉRICA DO SUL

Julian Assange, australiano de 47 anos, foi retirado à força da embaixada equatoriana, onde vivia há sete anos, pela polícia da Inglaterra. Inicialmente, as autoridades disseram que o motivo seria o fato de Assange ter fugido da sua “liberdade condicional” ao entrar na embaixada em junho de 2012 para receber asilo político.

Menos de uma hora depois, a polícia voltou atrás e emitiu um comunicado reconhecendo que Assange foi preso a pedido do governo dos Estados Unidos, que solicitou a extradição do jornalista por ser acusado de “conspiração hackear” contra o país norte-americano.

A acusação se refere ao vazamento de 250 mil telegramas da embaixada Americana ocorrido em 2010. Chelsea Manning, a soldado acusada de ser a fonte dos documentos, entre eles os que mostram a barbárie dos EUA contra civis nas guerras do Iraque e do Afeganistão, está presa numa solitária desde 8 de março por negar-se a testemunhar contra Assange.

A prisão do jornalista equatoriano dentro da embaixada equatoriana, considerada território do país sul-americano, só foi possível depois que o atual presidente do Equador, Lenin Moreno, revogou o asilo político que estava em vigor desde 2012, e a cidadania que havia sido concedida a Assange em 2017.

As revogações aconteceram 5 dias antes de uma visita de Moreno a Washington por seis dias e 15 dias antes de uma visita oficial que estava agendada do Relator da ONU sobre Tortura à embaixada para verificar a condição de saúde de Assange, que era mantido em isolamento pelo governo equatoriano dentro da embaixada há um ano, sem internet, comunicação e com visitas reduzidas.

Em entrevista à Pública, o ex-presidente do Equador Rafael Correa (presidente entre 2007 e 2017), cujo governo concedeu asilo político a Assange, afirmou que a revogação do status é ilegal e contraria a Constituição do país. Para ele, trata-se de um acordo entre o atual governo e os Estados Unidos, além de uma vingança pessoal de Lenin Moreno após um vazamento do WikiLeaks apontar para indícios de corrupção da família de Lenin.

“Moreno [atual presidente do Equador e vice-presidente no mandato de Correa] se entregou ao governo dos Estados Unidos desde o princípio, uma traição sem precedentes aos compromissos de campanha. Lembre-se que ele assumiu no dia 24 de maio de 2017. Mas no dia 20 de maio ele se reuniu com o Paul Manafor , ex-chefe de campanha de Donald Trump, antes ainda de assumir, e ofereceu entregar Assange aos Estados Unidos em troca de ajuda financeira ao Equador. E isso aconteceu, porque em fevereiro o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu um empréstimo de US$ 4,2 bilhões para o Equador com apoio do governo americano. E no ano passado o vice de Trump, Mike Pence, visitou o Equador e junto com Lenin chegaram a três acordos. O primeiro é isolar a Venezuela regionalmente – basta ver como o Equador está se comportando – o segundo é deixar a Chevron-Texaco na impunidade, deixando de processá-la [por derramamentos massivos de petróleo nos anos 90]. E o terceiro é entregar Assange aos norte-americanos”, Rafael Correa.

Moreno, que até sua posse era aliado do ex-presidente, chegou a fazer um pedido de prisão internacional acusando Correa pelo sequestro de um opositor político, mas a solicitação foi negada pela Interpol. “Olha, cada vez inventam uma nova acusação contra mim, é uma perseguição brutal, assim como estão perseguindo o Lula no Brasil, Cristina Kirschner na Argentina, a todos. E porque somos líderes de esquerda não temos direitos humanos! Está em curso uma absurda deturpação midiática e da Justiça”, completou o ex-presidente equatoriano.

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