quinta-feira, 28 de março de 2024

Gastos com saúde privada no Brasil somam R$ 231 bilhões de 2010 a 2017

Foto: Reprodução

Os serviços da saúde privada foram os principais gastos das famílias brasileiras com o setor, revelou hoje (20) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da pesquisa Conta Satélite de Saúde, que compara dados de 2010 a 2017.

Despesas com médicos e com planos de saúde lideram o ranking. No total, os gastos somaram R$ 231 bilhões, correspondentes a 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país. Na despesa de consumo final do governo, o destaque foi a saúde pública, com R$ 201,6 bilhões, ou seja, 3,1% do PIB.

De acordo com o órgão, os gastos no consumo de bens e serviços de saúde no Brasil alcançaram, em 2017, o equivalente a 9,2% do PIB. Isso representou o total de R$ 608,3 bilhões. A maior parte, R$ 354,6 bilhões, que correspondem a 5,4% do PIB, foi com despesas de famílias e instituições sem fins de lucro a serviço das famílias (ISFLSF). As despesas de consumo do governo atingiram R$ 253,7 bilhões, ou seja, 3,9% do PIB.

Despesa per capita

De acordo com o órgão, ainda em 2017, a despesa per capita com o consumo de bens e serviços de saúde, ficou em R$ 1.714,6 para famílias e instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias. Para o governo somaram R$ 1.226,8.

Valor adicionado bruto

A participação das atividades de saúde no Valor Adicionado Bruto (VAB), que indica a renda criada em cada atividade econômica em determinado período, subiu de R$ 202,3 bilhões (6,1%), em 2010, para R$ 429,2 bilhões (7,6%), em 2017. O maior aumento de participação ocorreu na saúde privada. Segundo o IBGE, esse item atingiu 3,0% do VAB total da economia, em 2017, enquanto em 2010, era de 2,1%.

Entre 2010 e 2017, a participação do consumo desses bens e serviços na economia subiu de 8,0% para 9,2%. O aumento foi mais evidente no final do período, indicando que em momentos de retração ou de baixo crescimento econômico o consumo de bens e serviços de saúde tende a cair menos que o de outros produtos e serviços.

Entre 2010 e 2015, o consumo de bens e serviços de saúde registrou crescimento, mas em 2016 houve queda em volume 1,5%. Apesar disso, em valor corrente as despesas aumentaram 6,8%. Conforme a pesquisa, em 2017, a alta em volume ficou em 0,6%, mas em valores correntes de 4,3%.

Governo

Os serviços de saúde e medicamentos custeados pelo governo, em 2017, correspondiam 19,2% do total de bens e serviços fornecidos à população. Aí estão incluídos os serviços de saúde, educação e a administração pública.

O principal item na despesa de consumo do governo com saúde, foi a saúde pública. Foram R$ 201,6 bilhões do total das suas despesas nesta área, o que representou 79,5%. Já a despesa com saúde privada, que são os serviços adquiridos de estabelecimentos privados, foi equivalente a 17,2%, ou R$ 43,6 bilhões. Com medicamentos foram R$ 8,4 bilhões, 3,3% do total dessas despesas.

“No SUS tem uma parte privada que o governo paga para as famílias. É quando a família vai para um atendimento privado que é pago pelo governo. Pelo sistema de Contas Nacionais a gente considera consumo do governo as despesas mercantis e não mercantis que ele vai disponibilizar para as famílias”, disse a pesquisadora do IBGE, Thassia Gazé Holguin, em entrevista à Agência Brasil.

No período de 2010 a 2017, uma mudança no cenário chamou atenção: o aumento das despesas com a prestação de serviços de saúde pública como proporção do PIB. O percentual saiu de 2,7% do PIB em 2010 para 3,1% em 2017. Mas quando são os medicamentos, o percentual mudou de 0,2% para 0,1%. A pesquisa mostra que a variação em volume do consumo de bens e serviços de saúde do governo só não superou a de produtos não-saúde nos anos de 2012 e 2016. Em 2017, enquanto o consumo de serviços de saúde cresceu 2,3% em volume, o consumo não-saúde caiu 1,3%.

“Como saúde é um bem inelástico, em momento de crise a gente não sente de imediato os efeitos no setor. A explicação pode ser por conta de a saúde ser um bem essencial ou a própria questão de financiamento de saúde do governo. Tem mais regras percentuais a serem aplicados. Os estados, municípios informam os gastos, a União também. Tem um controle”, observou.

Famílias

Conforme o IBGE, em 2017, o principal gasto das famílias com saúde, foi com serviços de saúde privada. Nesse ano, alcançaram 66,8% do total das despesas de saúde, somando R$ 231,0 bilhões. Os medicamentos alcançaram R$ 103,5 bilhões, ou 29,9% do total dessas despesas. Para a pesquisadora do IBGE em momento de aperto financeiro, as famílias procuram, primeiro cortar em outras áreas, para se necessário, por fim, chegar aos gastos com saúde.

“Minha renda diminuiu, vou diminuir os gastos com carro, com restaurante, mas os gastos com plano de saúde e medicamentos, em geral, mantenho a curto prazo, mesmo com a crise. Então, é esperado esse movimento. Em períodos de recessão da economia, a saúde sofre menos, mas a longo prazo pode sofrer”, disse, acrescentando, que os indicadores de gastos das famílias levam em conta além de planos de saúde, os medicamentos exames e serviços hospitalares.

Em relação ao PIB, a despesa das famílias com medicamentos se manteve estável entre 2010 e 2017, representando cerca de 1,5%, enquanto o consumo de serviços de saúde privados avançou de 2,5% para 3,5% do PIB.

Em 2017, enquanto o consumo de serviços de saúde pelas famílias caiu 0,7% em volume, o consumo de serviços não-saúde (despesas não relacinadas com saúde) cresceu 2,3%. De 2014 a 2016, a variação em volume do consumo de serviços de saúde pelas famílias superou a variação em volume dos bens e serviços não-saúde.

Embora a Conta Satélite de Saúde 2010-2017, não faça avaliação sobre o valor do plano de saúde, Thassia afirmou que é possível supor que mesmo com a redução de planos de saúde pelas famílias que se registrou no período de crise, que o nível de gastos se manteve por causa do aumento de valor dos planos. “A gente acredita que os planos devem ter aumentado o preço, mas como estou falando de um dado agregado de saúde privada, não dá para fazer afirmação profunda. Se tivesse desagregado, talvez fosse mais fácil fazer esta análise. Possivelmente dentro dessa questão da saúde privada, que incluindo de saúde serviço hospitalar e exame com prorpio desembolso direto das famílias, tem o efeito do preço do plano de saúde”, observou.

Remuneração

Entre 2010 e 2017, as atividades relacionadas à saúde registraram aumento nos postos de trabalho. Saíram de 5,3% para 7,1% do total das ocupações. Sobre as remunerações do setor, estão acima da média da economia, com um rendimento médio anual de R$ 43,8 mil em 2017 contra R$ 33,4 mil das atividades não-saúde. Em 2017, as remunerações desse setor representavam 9,6% do total das remunerações da economia.

A pesquisadora disse que neste setor não se pode confundir ocupação com postos de trabalho. “Uma pessoa pode ter mais de uma ocupação, por exemplo, uma enfermeira pode trabalhar em dois hospitais e uma clínica. Não se pode confundir o conceito com número de empregados. São postos de trabalho ou ocupações. Na área de saúde é muito comum mais de uma ocupação”, completou.

Países

Segundo a pesquisadora, na comparação com outros países, na despesa com saúde proporcional ao PIB, em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, o Brasil tem nível semelhante ao Chile, Reino Unido e Grécia, mas na despesa do governo também relacionada ao PIB, está um pouco abaixo da média.

Pesquisa

O IBGE informou que a publicação Conta Satélite de Saúde 2010-2017 “sistematiza informações sobre consumo e comércio exterior de bens e serviços de saúde e sobre valor adicionado e postos de trabalho em atividades de saúde”.

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