Nas nações que levam a sério o conhecimento, o indivíduo primeiro busca o saber e, como consequência, conquista o diploma. No Brasil dá-se o contrário: o sujeito busca avidamente o diploma e, se sobrar tempo, vai à cata de algum conhecimento para fingir que não é de todo ignorante.
José Maria e Silva
Vemos a pobreza franciscana da 10ª Feira do Livro de São Luís e lembramos a exuberância das primeiras edições, ali na Praça Maria Aragão, quando o evento era apinhado de editoras de todo o país, palestrantes inquestionáveis, e nós, escritores e artistas em geral, plenos de energia, nos deleitávamos em nossos debates.
É uma frase saudosa. E traz uma grande frustração que o desprestígio do conhecimento, do lazer e do acesso a eles está definitivamente instalado na crise financeira e ideológica de nossa cidade.
Hoje, olhando a programação de um dos espaços de discussão mais tradicionais e interessantes desde a criação da Feira, me abobei com os nomes dos participantes. Copiei e mandei uma mensagem para um amigo escritor, muito ativo na feira e na luta literária e livresca. Na mensagem comentei humildemente: “não conheço nenhum”! Certo de que ganharia uma pequena aula sobre os debatedores, no que ele me respondeu: “nem eu. Não tenho a menor ideia”!
Essa é a realidade. Não é uma feira, é uma mera quermesse. E, então, com alguma conversa sobre bastidores, algumas coisas se esclarecem. Além da lentidão e urgência com que se vem realizando a feira nos últimos anos, ou seja, nada se faz, a não ser em cima da hora.
Segundo uma fonte que circula nos bastidores do universo livreiro, e por isso não quer ser citada, o primeiro problema surgiu quando, vendo a falta de estrutura (e vontade) a Associação dos Livreiros do Maranhão (ALEM) cogitou desistir de participar dessa edição da feira. Um mel na limonada da prefeitura, que viu a oportunidade de jogar no colo da ALEM a impossibilidade da realização da 10ª FELIS, por que sem livros pra vender não tem feira.
Chamada pra dizer se não iria mesmo participar, a ALEM voltou atrás, talvez, percebendo que mesmo sem estrutura, ainda seria possível vender livros, até por que, há uma reserva de mercado, ou seja, praticamente só os livreiros do Maranhão participam.
E então corre-se e faz-se este evento pífio, sem representação, lançando o bom nome de Gonçalves Dias no vácuo. Sem poetas, sem prosadores, com dois gatos pingados de palestrantes e livros ao preço de mercado. Que feira!
Cadê as grandes livrarias e editoras com aquelas belas promoções que nos enchiam a estante de leituras para uns bons anos? Livros de consulta, filosofia, sociologia, poesia, os clássicos e novos clássicos! Estão debaixo da reserva de mercado.
Tá tudo na vala comum onde são enterradas as boas experiências, substituídas por meros engodos e simulacros.