sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

OPINIÃO: A cidadania de cabeça baixa

“Na lógica da ideologia neoliberal dominante, a política, enquanto escolha entre opções ideológicas diferentes, tende a desaparecer. Como não há alternativa, os governantes não necessitam do consenso dos cidadãos, basta-lhes a resignação”.
Boaventura de Sousa Santos

Esta semana, a eleição de Donald trump para a presidência dos EUA mexeu com o mundo. Todos contavam com a eleição da Hilary Clinton, que levou um vareio e tanto no final do segundo tempo. O mundo todo quer saber “e agora, o que será”?

Intelectuais, políticos, estadistas, palpiteiros de todos os cantos arriscam uma leitura do “novo mundo” que se desenha. Alguns usaram a máxima que de que “tudo pode ocorrer, inclusive, nada”. Ontem o mercado financeiro estava nervoso. O dólar foi lá pra cima. Chegou a se aproximar de 3 reais há alguns dias e agora, no começo da manhã chegou aos 3,48.

O líder Chinês mandou avisos a Trump de que o isolamento não é um caminho. Temer disse que as relações com o Brasil não mudam. É possível inclusive que as relações Brasil e EUA melhorem… Para eles! Uma vez que as atitudes do atual governo brasileiro e escancarar as portas para o capital internacional. Vejam-se as decisões do pré-sal, do software livr e, do arroxo aos trabalhadores.

Talvez isso possa ser corroborado por uma afirmação do Governador Flávio Dino: “Difícil conseguir coesão social para ‘medidas de ajuste’ se não houver ‘ajuste’ também sobre mais ricos, por exemplo, capital financeiro e rentistas”.
Mais que isso, de efeito imediato, é essa disparada do dólar. Lembrando que um sem número de produtos, de gasolina, a pãozinho francês sofre influência da variação cambial. Ou seja, permanecendo esse dólar alto, a próxima remessa de importação de trigo vem com preço lá em cima e vai terminar na padaria da Cidade Olímpica.

Fenômeno Trump?

Outro fato espantoso da semana foi a atitude de estudantes do Liceu de fazer uma faixa em homenagem a Bolsonaro. Em momentos como esse se exaspera o sentimento de que uma virada conservadora é inevitável, ou, pior ainda, está estabelecida. Aqueles sentimentos comuns aos jovens, questionar, desobedecer, enfrentar foi pras cucuias. Como serão quando passarem dos 50? Robôs?

A ação destes estudantes ultradireitistas é uma reação a um grupo de alunos do próprio Liceu que, há poucos dias, foram violentamente reprimidos pela polícia, ao tentar ocupar o prédio. Da mesma forma que professores, estudantes de todo o país vem sendo sequencialmente reprimidos com violência. E parece que a população de maneira geral está se calando e talvez, até, apoiando.

E mais uma vez, incomoda o fato de haver um endurecimento constante em curso contra, por exemplo, “motoristas infratores”, e nenhum endurecimento ao crime organizado. Muito pelo contrário, o Líder do Governo na Câmara, Deputado André Moura (quem?) está com uma lei para perdoar o “caixa dois” pelos quais bem meio congresso está sendo questionado pela justiça.

Enquanto isso, a população que batia panela contra Dilma e o PT (os únicos demônios do mundo) está mais quieta do que onça de tocaia.

Pra fechar, visitamos Étienne de La Boétie quando diz que podemos resistir à opressão sem recorrer à violência. Ele diz que os tiranos destroem-se a si próprios, quando os indivíduos se recusam à escravidão. E que se todos se recusarem, a tirania perde a sequência de tiranos.

É preocupante quando os primeiros a se rebelarem são os primeiros a consentir na opressão e na escravização.

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