(R7)
O ciúme é um sentimento natural, inerente ao ser humano. É uma ferramenta evolutiva que tem a função de preservar o relacionamento, servindo como um sensor de perigo. Todo mundo sentiu ou sentirá ciúme alguma vez na vida, é como a ansiedade, medo, tristeza, alegria…
Prova disso foi a atitude de Ivete Sangalo, que em um show no Réveillon, na cidade de Guarajuba, na Bahia, protagonizou uma cena de ciúme que dominou as redes sociais. Do palco, a cantora viu o marido, o nutricionista Daniel Cady, de teretetê com uma mulher no camarote, e dali mesmo soltou o verbo: “Quem é essa aí, papai? Está cheia de assunto, hein?”, disse, visivelmente irritada.
O problema é que o ciúme bom, aquele que faz bem ao relacionamento e com o qual o parceiro sente-se amado e seguro, pode descambar para o que os profissionais de saúde mental chamam de ciúme patológico ou excessivo. Para se ter uma ideia, há até um ambulatório no Hospital das Clínicas, em São Paulo, especializado no tratamento desse comportamento.
Andrea Lorena, psicóloga do Programa de Transtornos do Impulso do IPq (Instituto de Psiquiatria do HC), explica a diferença.
— No dito ciúme bom, ou seja, normal, primeiramente acontece uma situação provocadora de ciúme, e aquele que sente ciúme consegue transmitir isso para o parceiro de forma assertiva, ou seja, que ele ou ela consiga escutá-lo e decidem juntos o que pode ou não ser feito. Aqui, a pessoa que sente ciúme sabe que relacionamentos amorosos podem terminar, que irá ficar triste e que também irá se recuperar, acredita ser capaz de amar e ser amada e de manter relacionamentos.
Por outro lado, continua Andrea, no ciúme ruim, o patológico ou excessivo, o ciumento perde o controle. Qualquer situação ou gesto são interpretados como uma ameaça ao relacionamento, como por exemplo, um aperto de mão, abraço mais demorado, uma mensagem no WhatsApp. Ciúmes excessivos normalmente apresentam pensamentos constante acerca da infidelidade do parceiro, e comportamentos de segurança tais como vasculhar os pertences do parceiro ou parceira, investigar conversas nas redes sociais, dar incertas no trabalho, perseguição.
Kelen de B. Pizol, psicóloga cognitiva graduada e pós-graduada pela USP, que faz atendimento psicológico individual e para casais, explica que o ciúmes normal é transitório, específico e baseado em fatos reais. Já o ciúmes patológico é uma preocupação infundada, irracional e descontextualizada.
O ciúme torna-se patológico quando começa a trazer prejuízos para o relacionamento, quando o ciumento gasta mais tempo procurando por provas da infidelidade do que dos seus próprios interesses como amigos, trabalho e escola. Kelen esclarece que o ciúmes não é uma doença, é uma emoção. Não há sintomas do ciúmes, mas ele pode, sim, ser sintoma de um transtorno psiquiátrico, como o transtorno obsessivo compulsivo, demência, alcoolismo ou esquizofrenia. Nesse caso, deve-se procurar um médico psiquiatra.
Cada um vai saber o limite de seus ciúmes. O ciúmes romântico (entre parceiros amorosos) acontece geralmente quando uma situação é interpretada pelo parceiro como uma ameaça ao seu relacionamento afetivo. A sua justificativa, quando é um ciúmes normal, é a preservação do relacionamento. Quando o ciúmes está prejudicando o relacionamento, trazendo sofrimento para o ciumento ou para a pessoa alvo do ciúmes, ou o ciumento já tentou lidar com isso outras vezes mas não conseguiu, é bom buscar atendimento psicológico.
Mas, afinal, o que motiva o ciúmes? Muitas vezes, esse ciúme doentio está ligado a sentimentos de insegurança, crença de não ser amado, e sinal de depressão e ansiedade. Não há cura, mas é possível, com tratamento adequado, adquirir controle sobre os sentimentos exagerados. Não tem muito jeito… para a terapeuta Andrea Lorena, todo mundo tem ciúme, faz parte de nossa existência como ser humano. E ela alerta:
— Homens e mulheres sentem ciúme, mulheres bonitas, feias, inteligentes, homens bem-sucedidos profissionalmente, pobre, ricos, independentemente da classe social ou do gênero. O que podemos fazer é tentar não deixar com que ele transborde e tome conta de todas as situações da vida.