sexta-feira, 13 de junho de 2025

Restaurante no Centro de São Luís é acusado de racismo; donos dizem ter sofrido xenofobia

Foto: Reprodução

Co-vereadores do Coletivo Nós afirmaram ter presenciado uma situação de racismo no restaurante Voilà Gastrobar, localizado no Centro Histórico de São Luís, na noite da última quinta-feira (17). Segundo a denúncia, um funcionário teria se recusado a vender um refrigerante para um morador de rua negro por ordem dos patrões, e, posteriormente, o homem teria sofrido agressão a mando do estabelecimento.

Um Boletim de Ocorrência (BO) foi registrado pelo co-vereador Eni Ribeiro na Delegacia de combate a crimes agrários, raciais e de intolerância. No relato, o parlamentar conta que o morador de rua, chamado Edson, pediu um refrigerante para levar para sua namorada. Ao servir, o funcionário abriu a bebida e ofereceu ao homem, que recusou, pois queria para viagem. Então, o funcionário teria se recusado a vendê-la fechada, pois o homem “ia fazer mal uso do refrigerante”, e “ele estava acostumado a ir lá para roubar as pessoas”.

“A gente foi até o dono do restaurante e falou: ‘no nosso país você não pode distinguir para quem você vai vender. É crime’. Aí foi quando a esposa saiu de lá, veio acusando o senhor de roubo, dizendo que os usuários de crack arrombam os restaurantes, que os moradores de rua trocam as coisas por droga”, contou Eni à reportagem.

Logo após o acontecido, o proprietário teria dado uma rasteira e um choque com um teaser no morador de rua, segundo o parlamentar presente. “Na frente da polícia. Ele não respeitou absolutamente ninguém. A gente conseguiu tirar ele de cima e o cara continuou tentando partir pra cima com o teaser”, disse. Logo depois, a Polícia Militar interveio.

De acordo com Manuella Martins, proprietária do restaurante junto a seu marido, o francês Aurelien Pinguet, os parlamentares teriam sido xenofóbicos durante a discussão. “Um dos co-vereadores falou pro meu marido que, porque era estrangeiro, não sabia o que acontecia por aqui. E eu falei: ‘o que o senhor está fazendo é xenofobia'”, contou à reportagem. Manuella disse que o funcionário não vendeu a bebida fechada por conta da política do restaurante.

“Aqui no centro tem muito usuário de crack e pedem refri, comida, dinheiro, e vão na boca trocar por droga. Inclusive refrigerante fechado”, conta a proprietária. “E ai ele explicou e eles, alterados, falaram que ele trocava se ele quisesse. A gente falou que não era assim. Eles agindo daquele jeito fomentam o crime que acontece aqui no centro. Essas pessoas passam aqui pedindo e mais tarde arrombam os casarões”.

A dona do restaurante disse que, depois da situação, ela e o morador de rua começaram a discutir. “Ele veio pra cima de mim como se fosse me agredir. Aí um funcionário tomou partido para me defender”. Depois, vídeos de câmera de segurança mostram uma briga entre o dono, o morador de rua e o vereador. Manuella ainda contou que o marido anda com um teaser porque já foi esfaqueado.

Vídeo: Divulgação

A situação comoveu usuários de redes sociais, que prometeram boicote ao estabelecimento. As publicações fizeram a proprietária registrar, também, um BO relatando ameaça, difamação, injúria e calúnia contra o restaurante e seus donos. “(…) Eu estou muito revoltada, meus funcionários também estão muito entristecidos. Eles me acusam de racismo mas meu filho mais velho é preto”, pontuou.

Crime

De acordo com a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB, Caroline Caetano, o fato de uma pessoa estar mal vestida ou ser moradora de rua não tira sua liberdade de consumir qualquer coisa em um estabelecimento.

“Eu tenho o contexto de um proprietário branco que se insurge contra uma pessoa negra que chegou a seu estabelecimento. Então não é porque é um usuário de drogas, não é porque é uma pessoa pobre. Mas é porque, possivelmente, é uma pessoa negra que pode vir, também, a ter esses outros pontos. Então, o que legitima ele tratar um negro mal neste momento? É porque é um morador de rua. É uma pessoa que está pedindo ajuda”, explicou, sobre a possível ocorrência de um crime de ódio.

Veja o depoimento do vereador em seu Instagram:

Vídeo: Reprodução/Instagram

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