As centrais sindicais veem o 1º de Maio, pela primeira vez unitário, como marco na resistência ao retrocesso social e ponto de partida para uma “virada” contra os ataques do governo, tanto nas ruas como no parlamento, palco dos próximos embates. Reunidos em São Paulo para comemorar o dia do trabalhador, os principais sindicalistas do país apostam em uma mobilização crescente, que levará à greve geral em 14 de junho, aumentando as chances de derrotar o projeto de “reforma” da Previdência.
Dirigentes das 10 centrais que organizam, CGTB, CSB, CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical (duas), Nova Central e UGT, deixaram as divergências de lado para o enfrentamento ao “inimigo comum”, como define o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. “As centrais sindicais têm concepções diferentes, mas diante das maldades contra o povo brasileiro, não podemos (ficar separadas). Isso recupera, na minha avaliação, o sentido do 1º de Maio, inclusive internacionalmente.”
Ele acredita que o dia é “histórico” para o movimento sindical. “O momento que o país vive é muito grave. É um retrocesso civilizatório que está acontecendo”, afirma Sérgio Nobre, citando os diversos ataques aos direitos sociais. Por isso, acrescenta, estarão em luta “todos os que têm amor à democracia”.
Sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6, que mexe na Previdência e atinge as aposentadorias, o dirigente da CUT diz que não há o que negociar. “A reforma é totalmente perversa. Não tem negociação. Queremos a retirada.”
O presidente da Força, Miguel Torres, também acredita ser possível derrubar a PEC governista. “Enquanto tivermos força na base, nós derrotamos a proposta”, afirma. “Vai depender de nós.”
Ele destaca o abaixo-assinado que as centrais e os movimentos sociais estão fazendo circular pelo país. “É o instrumento mais importante que temos hoje. Temos a chance de conversar com os eleitores dos 513 deputados, dos 81 senadores, dos governadores”, argumenta.
Para o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, a população já está se dando conta das consequências da propostas do governo. “O sentimento que a gente tem é que está crescendo a consciência do povo com o que o Bolsonaro está fazendo com o país. O povo começa a pegar no breu”, diz Bira, que pela manhã participou de atividade na região de Itaquera, zona leste da capital paulista. “Ele (Bolsonaro) está destruindo o maior programa de distribuição de renda do país, que é a Previdência pública.”
Também para ele, não há acordo possível em relação ao projeto. “A gente vai barrar. Nessa reforma não tem nada que preste para negociar. Não é fácil, mas sinto que a gente vai ser vitorioso.”
Integrante da direção da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, acredita que o 1º de Maio seja o início de um movimento mais forte dos trabalhadores, após quatro meses de ataques. “Até agora, tivemos mobilizações parciais. É possível dar a virada. O pessoal está começando a enxergar a situação.”
Para Mancha, cabe exatamente ao movimento sindical intensificar a campanha de esclarecimento sobre o que significa a “reforma” da Previdência. “Existe uma campanha monstruosa (da imprensa tradicional), e é necessário se contrapor, desmascarar esse projeto.”
O presidente da CTB, Adilson Araújo, avalia que “prevaleceu a mentira” durante o processo eleitoral. “Depois de tudo que se vendeu, fruto da materialidade do golpe, o que se está assistindo é um desastre social. O desemprego continua alto, do ponto de vista econômico o PIB está cambaleando. E o governo advoga a ‘reforma’ da Previdência como se fosse resolver os problemas do país”, diz.
Adilson cita a “reforma” trabalhista, com o princípio do negociado sobre o legislado. “Eles não querem negociar nem o que está na lei. É a degradação do trabalho”, afirma. Um ponto importante, para ele, é a defesa de uma reforma tributária progressiva, aumentando o limite de isenção do Imposto de Renda.