O grande debate instaurado no país esses dias é sobre a extinção do Ministério da Cultura. E o que surge de conceitos exóticos, atípicos e, até, histéricos de cultura é uma miscelânea da 25 de Março, da Rua Grande, da Feira do João Paulo.
Nos anos 80, com a redemocratização do Brasil, uma gama de títulos, antes bloqueados pela censura, começou a aparecer, juntamente com as novas editoras. A Brasiliense foi show para os estudantes dos cursos de Humanas e Sociais que rebrotavam das cinzas do incêndio da ditadura militar.
Desde livrinhos como os da coleção Primeiros Passos, que traziam os títulos “O que é…”, até obras de grosso calibre, de pesquisadores como Roberto da Mata, Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire e mais os frankfurtianos e pós estruturalistas entraram novamente em catálogo no país.
Nos cursos de História da Arte, Comunicação Social, Estética, sem falar naqueles de foco específico como Sociologia, Antropologia e Ciências Sociais a Cultura (geral e brasileira) era foco de grandes debates. Foi por ali que se analisou o “jeitinho brasileiro”, o “carnaval malandros e heróis”, a “brasilidade”, o “país do futebol”, o “samba” e tantas compreensões que caíram por terra, foram reanalisadas, reafirmadas ou negadas.
Por fim, o que sobra é uma gagueira de mesa de bar. Quantas horas foram gastas pra compreender as diferenças (e semelhanças) da cultura popular e da cultura de massa? Arte e entretenimento? E no fim das contas tudo, incluindo o tratamento dado à Cultura (no cerne) vai no mesmo veio que todo o resto: política de efeitos.
O drama em torno da Lei Rouanet, por exemplo, é um odor de pântano, com todo respeito a este ecossistema. Que a cultura de massa é uma expressão real, disso não tenho dúvidas, o século XX é leito de uma amplitude de expressões que deram nesse leque de experiências. A cultura pop, por exemplo, com seu gigantesco filo, deságua num delta tão amplo que se confunde, se completa com o desenvolvimento das mídias. Daí surgem paquidermes como a Indústria Fonográfica (finada), Hollywood, a Propaganda e tantos outros sistemas que são armas de domínio e controle da cultura mundial.
A solução que temos encontrado é a famigerada política de tal. Quando há números e dores tudo bem, mas quando há sentimento, expressão e fé o bicho pega. Vai uma política cultural aí?
Creio que vivemos algo parecido com o século XV, embora com algumas inversões. Aquele foi um tempo de homens incríveis. Será que agora seremos capazes de contornar o domínio estrangulante? Seremos capazes de um novo humanismo, um novo renascimento? Seremos capazes de enfrentar a espada e o fogo para recriar o mundo? Eis o desafio do novo milênio. Quisera poder voltar daqui a 200 anos pra saber o que aconteceu.