O mundo está diante de uma crise sem precedentes conhecidos, especialmente no que diz respeito às medidas que têm sido tomadas pelos governos das diversas nações do mundo e autoridades internas com vistas ao combate à disseminação do novo coronavírus.
O vírus surgiu no momento em que o mundo está em convulsão, não só por guerras regionais entre nações, mas por conflitos internos, supostamente por motivos religiosos, ideológicos ou outros nomes que se lhes queiram dar, ensejando ondas de migração em razão das calamidades que decorreram dessas circunstâncias, desemprego, desabastecimento de alimentos e perseguição pelos motivos citados.
Tudo isso é gerado por um vírus que o ser humano já traz na sua alma, na sua mente, no seu coração, em qualquer lugar de sua essência: o vírus da ambição, que se manifesta de formas diferentes. Exacerbado em uns, estes buscam o Poder para satisfação pessoal e, assim, desviam o Estado de sua finalidade, que deveria ser promover o bem estar do povo. Mas a ganância que os move não tem limites e transformam as instituições em instrumentos de enriquecimento pessoal e de manutenção no Poder. Assim, as riquezas e os recursos das nações não são revertidos para a população.
É evidente que alguns países têm autoridades responsáveis, que procuram honrar os cargos que ocupam e trabalham em benefício de sua população. Em outras, a irresponsabilidade predomina, os interesses mesquinhos se sobrepõem ao interesse público e tudo o que os gananciosos que vivem da dilapidação do erário querem é tumultuar para tirar proveito pessoal.
Se o País tivesse um histórico diferente do que tem – forjado na corrupção e na impunidade – é evidente que suportaria com melhores resultados os efeitos terríveis da pandemia que ora se alastra. A recente façanha do Congresso Nacional abocanhando bilhões para campanhas eleitorais viciadas é bem um retrato das prioridades parlamentares.
Se a saúde, a educação, os transportes, a infraestrutura das cidades e suas interligações não fossem canais de desvios de verbas, a realidade urbana e rural seria outra. À população não seria imposto o descaso que a deixa exposta e vulnerável, vivendo em áreas com esgotos a céu aberto, em ambientes públicos sujos, sem hospitais dotados de recursos humanos e materiais para o atendimento aos pacientes, sem transportes limpos e higienizados, trafegando em ruas e estradas esburacadas, apesar de refeitas em sucessivas gestões e reinaugurações, deliberadamente programadas e realizadas para desviar, impunemente, recursos públicos, provenientes de tributos pagos pelos contribuintes.
Por isso, quando são anunciadas destinações de verbas para combater a pandemia e declaradas situações emergenciais, é difícil acreditar que tais recursos e medidas não sirvam para atender projetos pessoais, num país em que até a merenda escolar e kits de saúde são assim desviados, inclusive para uso eleitoreiro.
O coronavírus vai deixar um rastro de morte e destruição na economia, mas certamente vai ser vencido e passar. Quem vai continuar matando, imbatível, é a cadeia viral mais cruel de todas: ambição, ganância, corrupção e impunidade.
* Advogado e jornalista