sábado, 20 de abril de 2024

Brasil é um dos países mais perigosos para jornalistas

País ficou em 111º lugar em um ranking mundial que avaliou 180 países

O ranking mundial elaborado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RWB, sigla em inglês) coloca o Brasil entre os países mais perigosos para jornalistas. Apesar das leis que garantem a liberdade de expressão, do regime de governo que é democrático e de não haver conflitos armados no território brasileiro, o País aparece na 111ª posição do índice, que avaliou 180 nações.

Entre os principais motivos para o mau desempenho brasileiro, foram apontados o alto número de prisões e agressões policiais durante a onda de protestos que aconteceu em várias cidades no ano passado.

De acordo com dados da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, houve 190 relatos de agressões físicas, apreensão de materiais de trabalho (como pen-drive e câmera fotográfica) e prisões injustificadas entre maio de 2012 e setembro de 2013.

“Com o objetivo de levar a informação para o público, os jornalistas se veem, muitas vezes, no meio de um cenário de guerra”, afirma Denise Paiero, coordenadora do curso de jornalismo do Mackenzie.

— Eles sofrem agressões — voluntárias e involuntárias — tanto de policiais quanto de manifestantes e a identificação como profissional de imprensa não garante a segurança. Por vezes, [os jornalistas] acabam sendo agredidos exatamente por estarem identificados como os profissionais que são.

A maioria das agressões foi atribuída a membros da Polícia Militar e considerada proposital pela Abraji.

Outro fator que prejudicou o Brasil, segundo o chefe do departamento de jornalismo da PUC-SP, José Arbex, é o da estatística: “No plano mais geral, as agressões aos jornalistas refletem uma situação brasileira em geral”.

— Em um país extremamente violento, onde a taxa anual de homicídios está no patamar dos 60 mil, seria estranho se a violência não atingisse também os jornalistas.

Arbex também afirma que os profissionais também são vítima de violência e perseguição porque seu trabalho, muitas vezes, afeta interesses econômicos concretos. Nestes casos, a impunidade contribui para a intimidação do jornalista, principalmente, fora dos grandes centros urbanos.

— Como as garantias constitucionais não são praticadas de fato — isto é, a norma é a impunidade, ainda quando os criminosos são conhecidos —, o jornalista se torna um alvo fácil. Eliminá-lo é a maneira mais simples de “resolver o problema”.

Para Carlos Costa, coordenador do curso de jornalismo da faculdade Cásper Líbero, os brasileiros ainda são muito influenciados pelo coronelismo, um sistema no qual o poder regional era concentrado nas mãos de grandes donos de terra durante os primeiros anos da República brasileira e que, até hoje, faz com que haja “uma cultura do medo na sociedade”.

— Principalmente no interior, há casos de pessoas que mandam matar jornalistas que não estão falando o que eles querem. E é muito difícil você associar causa e efeito [o crime e o culpado], porque as pessoas têm medo de depor.

Para o coordenador da Cásper, ainda falta no País uma mobilização mais forte dos próprios jornalistas contra esse tipo de violência e uma ação mais efetiva das associações e sindicatos, que, segundo Costa, “não põem a boca no trombone como deveriam”.

— Muita gente para de investigar quando percebem que elas podem ser a próxima vítima.

América do Sul

O índice do Repórteres Sem Fronteiras usa como base seis critérios: pluralismo, independência da mídia, ambiente de trabalho e autocensura, o quadro legislativo, transparência e infraestrutura.

O Brasil está entre os três países mais mal colocados da América do Sul, seguido de Venezuela e Colômbia. Em relação ao índice divulgado em 2013, o desempenho brasileiro piorou e o País caiu três posições, enquanto a Venezuela subiu um e a Colômbia subiu três.

A organização aponta também que a violência contra jornalistas diminuiu na Bolívia e no Equador e que o crime organizado é um dos fatores mais prejudiciais no continente sul-americano.

A Argentina é a melhor colocada e aparece na posição 55, na frente de Chile (58), Bolívia (94), Equador (95), Peru (104), Paraguai (105), Venezuela (116) e Colômbia (126).

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