Durante anos, a Biblioteca Pública de Santa Catarina guardou um segredo no seu acervo: uma versão desconhecida do hino nacional brasileiro. E ela foi composta por um dos maiores escritores do país, Machado de Assis.
A descoberta é do pesquisador paraense Felipe Rissato, que vasculhou o acervo do local. Em um anúncio no extinto “O mercantil”, de 8 de dezembro de 1867, era relatado que naquele domingo aconteceria um espetáculo de gala num teatro da cidade de Desterro, antigo nome de Florianópolis.
Diz o anúncio que o hino nacional seria executado com uma “letra adaptada pelo distinto escritor brasileiro, Senhor Machado d’Assis.”, na grafia antiga.
“Machado não era o grande Machado de Assis, mas ele já era um autor conhecido. Então eu acredito que não foi ele que ofereceu os versos, foi a companhia dramática que o solicitou”, conta Rissato.
Para encontrar a letra da versão de Machado de Assis, o pesquisador teve que olhar outro jornal – “O Constitucional”. Que, três dias depois do espetáculo, publicou as estrofes.
“Era comum os escritores publicarem nestes folhetins suas poesias, nestes jornais de circulação. Era um espaço de circulação da sua produção textual e literária”, disse o bibliotecário Alzemi Machado.
O anúncio não diz onde aconteceu o espetáculo, mas é possível ter ocorrido no maior teatro de Desterro na época, o São Pedro de Alcântara. Ele foi demolido dois anos depois, em 1869. E com seus escombros foram embora os vestígios da apresentação.
Também não há nenhum registro de que Machado esteve em Desterro para assistir sua homenagem ao imperador.
Com a descoberta, esta é a quarta letra já feita para o hino nacional no período do Império. A letra machadiana tecia bajulações ao imperador Dom Pedro II.
Veja a letra:
Das florestas em que habito
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Enche o peito brasileiro
Doce luz, almo fervor
Ante o dia abençoado
Do grande Imperador
Das florestas em que habito
Solto um canto varoniil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Em firme o trono sentado
O colosso Imperial
Tem por base de grandeza
O coração nacional.
Das florestas em que habit
Solto um canto varonil:
Em honta e glória de Pedro
O gigante do Brasil.
Correm anos, e este dia
Surge na terra da Cruz:
Abre-se a alma do povo
Jorra do Céu nova luz.
Das florestas em que habito
Solto um canto varonil:
Em honra e glória de Pedro
O gigante do Brasil.