quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Debates, oficinas e exposição movimentam Semana da Consciência Negra

Promover ampla reflexão e troca de experiências sobre as identidades e culturas negras na sociedade contemporânea. Este é o objetivo da Semana da Consciência Negra, evento promovido pelas entidades e grupos afros do movimento negro do Maranh ão em parceria com a Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultural (Func), e o governo do Estado, com programação e atividades em escolas e espaços públicos até o dia 20 de novembro, data em que se celebra o “Dia da Consciência Negra”.

 

“Não estamos aqui celebrando apenas uma data simbólica. A importância desse evento se dá no sentido de conscientizarmos, especialmente as nossas crianças e jovens, sobre porque é necessário legitimar a presença negra no protagonismo das ações públicas mais relevantes, uma política de afirmação e igualdade racial”, destacou o presidente da Func, Marlon Botão.

 

A programação foi aberta na tarde da última quinta-feira (12), com a palestra “O negro sem nome e sobrenome”, proferida pela professora e pesquisadora em Educação Étnico-Racial da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Maria da Guia Viana, no espaço cultural Catarina Mina.

 

Em sua fala inicial, a pesquisadora retomou a importância da memória oral e da ancestralidade dos povos africanos na cultura dos negros do Brasil abrindo o debate com um cântico negro. “Ê meu pai quilombo, eu também sou quilombola. A minha luta é todo dia, é toda hora”, cantou.

 

Na presença de componentes de diversos grupos e movimentos negros, entre eles, jovens e crianças, Maria da Guia instigou os presentes a resgatarem na memória de suas próprias famílias a imagem do negro que se faz presente em suas próprias casas, para que eles se identificassem, revelassem nomes e sobrenomes, a própria identidade.

 

“Marcar e se apropriar dos corpos dos negros e negras foi a forma que os senhores de escravos encontraram para tentar impor uma dominação também cultural, mas eles não conseguiram se apropriar da nossa identidade revelada na diáspora dos povos africanos. A herança africana é um elo, um círculo invisível que toma corpo, ganha nome e se fortalece em forma de resistência do passado até o presente”, afirmou Maria da Guia.

 

A pesquisadora finalizou ressaltando a importância das cotas e das políticas de afirmação diante de uma realidade social excludente e intolerante. “O Brasil é um país negro”, concluiu.

 

TROCA DE EXPERIÊNCIA

 

A palestra se tornou o mote para que representantes dos grupos Abiyéyé Maylô, Gdam, Ominirá, Abibimã e Officina Affro falassem das vivências e experiências desenvolvidas nas comunidades onde atuam.

 

Pyetra Cutrim, professora de história e diretora do bloco Abiyéyé, relatou a importância do trabalho do bloco, que conta 30 anos de atuação no bairro da Liberdade, no que diz respeito à promoção da afirmação da identidade negra no combate à intolerância religiosa. “Nosso trabalho é integrar a comunidade e fazê-la se reconhecer como pertencente a uma ancestralidade africana e a gente percebe o quanto eles se escondem. Ainda é um problema se reconhecer como negro dentro das comunidades”, afirmou Pyetra.

 

Cláudio Adão, do grupo Gdam, contou a experiência do grupo em relação ao movimento reggae dentro da Comissão Integrada de Reggae e Turismo. “Nós colocamos o reggae no Carnaval de São Luís há 10 anos e mostramos que o gênero musical faz parte da identidade negra. Hoje são 14 segmentos que debatem o circuito do reggae tanto comercial quanto turístico”, destacou.

 

Luiz Gonzaga, do grupo Ominirá (palavra que em ioruba significa liberdade), relatou a experiência desenvolvida nas comunidades do Barreto e Jordoa, com oficinas de percussão e trabalho social junto à juventude. “Além de formarmos músicos e percussionistas, nossa principal preocupação é desenvolver também uma consciência social no combate à discriminação racial”, disse.

 

Após o debate, os grupos apresentaram suas performances de dança, canto e percussão na Rua Portugal, em frente ao espaço Catarina Mina.

 

OFICINAS NAS ESCOLAS

 

Oficinas de percussão e dança foram levadas para as escolas públicas dos territórios de atuação dos grupos afros nas comunidades, como forma de propor a inserção da identidade negra na educação das crianças e jovens negras.

 

Dez escolas foram visitadas pelos grupos envolvidos na Semana da Consciência Negra. Na sexta (13), os alunos da escola Antônio Jorge Dino, no Bairro de Fátima, e da escola Rivanda Berenice, no Barreto, tiveram oficinas com os componentes dos grupos. Além de conhecerem a diversidade de instrumentos e ritmos, os alunos puderam exercitar na prática o toque dos tambores.

 

“Achei bem legal aprender a tocar percussão. Não sabia que tinha essa quantidade de ritmos diferentes aqui no Maranhão”, disse Maria Luísa, aluna da escola Antônio Jorge Dino.

 

PROGRAMAÇÃO

 

No dia 19 de novembro, as atividades ficarão concentradas na Fonte do Ribeirão (Centro), em frente à sede da Fundação Municipal de Cultura. A partir das 18h, o espaço será ocupado pela Feirinha de Penteado Afro, com exposição do trabalho de trancistas do movimento negro e desfile de roupas de temática afro.

 

Em seguida, os representantes dos grupos e movimentos negros prestarão homenagem em memória ao fundador da Casa Fanti Ashanti, o babalorixá Euclides Menezes Ferreira, mais conhecido como Pai Euclides Talabyan, que faleceu em agosto deste ano. Após a homenagem, os blocos afros que participam do evento farão um grande espetáculo de ritmos e danças.

 

No dia 20 de novembro a programação acontecerá na praça Nauro Machado, com cortejo de blocos afro, feira gastronômica e shows de grupos afros.

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