Em um ambiente onde salvar vidas é a rotina, os profissionais multidisciplinares da área de saúde enfrentam desafios diários que transcendem o físico, adentrando em um território frequentemente negligenciado: A saúde mental.
Os gatilhos para o estresse e doenças mentais em ambientes hospitalares são multifacetados. Longas horas de trabalho, pressão constante por resultados, a dor e o sofrimento dos pacientes, e a inevitabilidade da morte, apesar dos melhores esforços, são apenas alguns dos fatores que contribuem para um cenário de estresse elevado. Além disso, a pandemia de COVID-19 exacerbou essas pressões, trazendo novos desafios e ampliando os já existentes. Assim, é fundamental cuidar melhor de quem cuida, como fez a Diretoria do Hospital do Servidor Estadual (HSE/HSLZ) ao promover uma palestra seguida de roda de conversa com colaboradores e diretores, voltada para o bem-estar desses profissionais. Essa iniciativa do HSE reflete todo o cuidado e o compromisso do hospital para com o bem-estar de sua equipe, o que é essencial para a manutenção de um atendimento de qualidade aos pacientes.
O Diretor Geral do Hospital do Servidor Estadual (HSE/HSLZ) Plínio Tuzzolo destacou a importância da palestra “Atualidades sobre Saúde Mental”, proferida pelo renomado médico psiquiatra Dr. Ruy Palhano na última segunda (29) no “Momento Branco” do hospital:
“Nosso objetivo foi colocar a equipe multidisciplinar em contato com esse tema tão importante que é a saúde mental. Os níveis de stress, angústia e pressão que o ambiente hospitalar naturalmente oferece são enormes. Precisamos aprender a enfrentar os desafios da nossa rotina sem adoecer, com mais alicerce e mais conhecimento, para que possa haver um enfrentamento saudável de todas as patologias que também afetam os profissionais da saúde. E a saúde mental é um dos pilares e do fortalecimento emocional. Precisamos saber conciliar a saúde física, mental e social de forma equilibrada para termos saúde plena. Cabe aos gestores de saúde abirem mais espaços para isso e fomentarem esse tema nas instituições; como fizemos aqui no HSE / HSLZ e tendo como convidado especial esse grande expert que é o Dr. Ruy Palhano. Ele prontamente atendeu ao nosso convite e birlhantemente nos enriqueceu com sua palestra. Todos saímos bem melhores dessa experiência, renovados para os nosso desafios que são imensos” declarou o Diretor Plínio Tuzzolo.
Estatísticas Alarmantes no Brasil
Os sintomas dos problemas de saúde mental podem variar, mas geralmente incluem exaustão emocional, despersonalização, sentimentos de ineficácia, insônia, irritabilidade e dificuldade de concentração, tristeza, dentre outros. O reconhecimento precoce desses sinais é crucial para a prevenção de condições mais graves reforçou o Dr. Ruy Palhano. O psiquiatra e Diretor – Presidente do Instituto Ruy Palhano (INCONS) é especialista em Dependência Química pela UNIFESP; especialista em Psiquiatria pela UERJ e Doutor Honoris Causa da University Wil Brunner (EUA).
Ele apontou como grandes vilões da saúde mental atualmente os aparelhos eletrônicos devido ao seu uso exagerado e disfuncional – celulares, tablets e computadores – entre pessoas de todas as idades. E trouxe dados alarmantes que precisam de atenção: “Hoje temos 21 milhões de brasileiros portadores de transtornos de ansiedade e cerca de 12 milhões com depressão diagnosticada. O Brasil é um país enfermo do ponto de vista psiquiátrico, é preciso um esforço coletivo para enfrentarmos essa triste realidade com mais eficiência” disse Palhano.
Outro grave problema apontado pelo especialista é a crescente incidência ds Síndrome de Burnout, que leva ao esgotamento físico e principalmente mental.
“Cerca de 37% dos profissionais desenvolveram essa Síndrome, como legado da pandemia. Nós temos um conjunto enorme de trabalhadores da saúde afetados por isso. As instituições de saúde precisam enfrentar com atenção a questão da saúde mental no ambiente hospitalar como está fazendo de foma louvável o HSE / HSLZ. Minha sugestão é que não fiquem somente nas palestras do Janeiro Branco, mas que avancem na criação de núcleos internos de saúde mental, que tratem disso de forma constante, acolhendo e orientando os profissionais quando precisarem de orientação e ajuda” frisou o psiquiatra.
Outro problema enfocado, e infelizmente crescente no Brasil entre profissionais de saúde também, é a questão da automedicação. O Brasil é campeão de pessoas que recorrem a medicamentos sem prescrição médica. Essa prática, longe de ser uma solução, pode levar a dependências e agravar problemas de saúde física e mental.
“Existe um trabalho da Associação Médica Brasileira que mostra que mais de 30% dos consumidores de remédios no país são adeptos da automedicação. A população está viciada nesse hábito. Muitas vezes uma dor de cabeça que é tratada só com um analgésico tomado por iniciativa do próprio paciente, devia era ser investigada por um médico, pois pode ser um importante sinal de problemas graves como um início de AVC, uma doença cardíaca, um prenúncio de hipertensão arterial, diabetes e de outras patologias que começam silenciosas e vão se agravando, sem o devido cuidado. Tem que ter também um maior rigor médico na prescrição de remédios. Eu defendo que o diagnóstico tem que ser a bússola médica, e não sair prescrevendo remédios, sem antes ter um diganóstico fechado e preciso. Isso é ainda mais importante nos casos de doenças mentais” frisou Palhano.
Ele ainda alertou sobre outro caso seríssimo que tem agravado os quadros de doenças mentais e causado dependências químicas: O uso indiscriminado de medicações voladas para o tramento de TDH, mas que estão sendo usados irresponsávelmente por pessoas sem o transtorno. Elas fazem uso dessas medicações para ter mais foco ao estudar para provas, para ter mais energia para passar em concursos, e o pior, tem muitos nutrólogos associando essas drogas em protocolos de emagrecimento, quando só geram grave dependência química. É a tal da moda do Vivance e de similares, que é perigosíssima e precisa ser alertada e combatida” destacou o experiente psiquiatra.
O Dr. Ruy Palhano também fez questão de frisar o quanto os preconceitos que envolvem a psiquiatria e os cuidados com a saúde mental inibem as pessoas, que acabam evitando buscar ajuda profissional quando detectam alguns sintomas.
“Se você mesmo que de leve, suspeitar que não está bem, já é um forte sinal subjetivo para buscar o quanto antes ajuda psicológica ou psiquiátrica. As doenças mentais quanto mais preocemente detectadas e tratadas, melhor. Todas as doenças devem ser enfrentadas e tratadas, sem exceção: Da simples ansiedade, ao ataque de pânico, fobias, distúrbios de humor, depressão, esquizofrenia, dependência de álcool ou drogas, todas essas doenças quanto mais tarde tratar, pior será. A receita ideal é investir na promoção da saúde associada à prevenção das doenças. E cuidar dos cuidadores da saúde é urgente” alertou o Dr. Ruy Palhano.
Luciana Ferreira é Supervisora de Call Center do HSE, ela participou da palestra e sabe bem a importância de buscar ajuda para cuidar da saúde mental:
“Eu lidero uma equipe hoje de 34 pessoas e já tive problemas sérios com ansiedade, e tenho uma filha que também já teve esse problema. Eu posso atestar que o diagnóstico precoce é extremamente importante. Quero convidar a todos para procurarem ajuda, não terem vergonha de cuidar da sua saúde mental. Se cuide e se ame. E quem for gestor, que estenda esse carinho e esse cuidado para sua equipe, para podemos ajudar mais pessoas. Todos juntos somos mais fortes na conquista da saúde mental” enfatizou Luciana.
Paulo Vasconcelos, psicólogo hospitalar do HSE / HSLZ, que conduziu a roda de conversa entre colaboradores após a palestra; também reforçou a importância de pedir ajuda para manter a saúde mental em alta:
“A minha dica é para que as pessoas cuidem mais da sua saúde mental – em especial os profissionais de saúde. Precisamos desacelerar um pouco, fazer atividades que causem bem estar, conviver mais com amigos e pessoas que gostamos, dosar o uso de redes sociais e celulares; e ter um sono de qualidade. Se perceba, se observe, veja como está a sua rotina e como ela influencia a sua saúde mental. Veja se precisa implementar algo em prol do seu bem estar. E caso reconheça que precisa de ajuda, peça ajuda logo. Pedir ajuda é a melhor coisa que você pode faezr por você mesmo. Cuide agora da sua saúde mental, para que não seja tarde demais depois” finalizou o psicólogo.