Neste momento, as eleições gerais do país começam apresentar um clima tenso. As disputas vão ficando mais acirradas, os grupos definidos e a batalha pelo voto e pela confiança do eleitor é o objetivo dos candidatos.
As pesquisas de intenção de votos, além de balizar e instruir o andamento das campanhas vira peça de marketing e arma de pressão de uns candidatos sobre outros. Mas quais as técnicas utilizadas? Qual a complexidade e a representatividade que uma pesquisa pode ter?
O Portal Guará conversou com o jornalista José Machado, sócio-diretor do Instituto de Pesquisas Data M, com vários anos de atuação no estado em diversas eleições. Veja a seguir os principais pontos da conversa.
Portal Guará – O senhor pode explicar como uma pesquisa como mil pessoas pode refletir a opinião de uma cidade inteira?
José Machado – Bom… Basta você contemplar todas as classes sociais. E, principalmente, você observar os níveis que são idade, grau de instrução, nível de renda, escolaridade; e a gente acrescenta outros itens, como religião e profissão. Você tem que levar em conta todos esses dados. Alguns dados são oficiais, tipo o grau de instrução, que você tem que verificar tudo no Tribunal Superior Eleitoral e a idade, porque eles estão atualizando mensalmente o perfil do eleitorado. Então a gente busca essas informações para poder compor a amostra; é para ser o mínimo passível de erro.
Portal Guará – Como é que funciona? Se pega todos os recortes e aplica-se proporcionalmente?
José Machado – Exatamente, a gente aplica proporcionalmente. Vamos supor que a população tem 30% de idosos, você tem que entrevistar 30% de idosos a partir dos 60 anos. Se a técnica diz que você tem que entrevistar é 40% de pessoas que têm um segundo grau, você tem que ir lá entrevistar; às vezes você contempla o idoso que tem segundo grau, que tem superior ou a pessoa que tem 40 anos, que tem primeiro grau, que tem primeiro grau ou uma renda x. Então tudo isso tem que estar contemplado na amostra; é por isso que dá certo; é por isso que na pesquisa você em que fazer tudo certo. Você põe essa amostra em campo e as entrevistas você escolhe aleatoriamente, então 100% é para dar correto.
Portal Guará – O que é que explica então a discrepância, principalmente, aqui no Maranhão, de umas pesquisas mostrarem uma coisa e outras mostrarem outra coisa bem diferente?
José Machado – Geralmente a metodologia de um instituto nem sempre é a metodologia do outro, então às vezes é em função disso. Não quer dizer que o outro esteja errado, mas geralmente os resultados se aproximam e se compõem de um instituto para outro. Mas se o instituto não usou de boa-fé a tendência é o resultado dar errado. A gente faz pesquisas em outros estados, mas principalmente aqui no Maranhão nós fazemos de tudo para acertar, porque a gente vive aqui e tem que enfrentar depois os clientes; tem que enfrentar depois a população, a sociedade; então a gente faz tudo para concluir que esses resultados exatamente correspondem à realidade.
Portal Guará – E essa questão da metodologia que o senhor já tinha falado um pouco antes, pode explicar um pouco mais sobre como é a metodologia que vocês utilizam?
José Machado – Depende; se pode usar a quantitativa. Quantitativa são essas que as respostas são apenas objetivas, quando você vai para campo. Tem as quali-quânticas, que são as qualitativas juntas com as quantitativas. Que além das respostas objetivas, também exige do entrevistado uma resposta pessoal que busque muito mais o que ele tem dentro dele para expressar. E depois é só colocar no computador, fazer os cálculos que a gente chega ao resultado. E o que acontece, fala-se muito em margem de erro, aqui em São Luís, por exemplo, com 1200 entrevistas, você consegue 2,5%, 2% de margem de erro, então a expectativa é que a pesquisa esteja dentro desse patamar para realmente ser levado em consideração.
Portal Guará – O que explica para o senhor essa desconfiança em torno das pesquisas e o que o senhor tem a dizer sobre isso
José Machado – As pessoas com certa ignorância, quando eu falo ignorância é porque não conhece do assunto e diz assim: “Eu nunca fui entrevistado” e em São Luís por exemplo, nós temos em torno de 700 mil eleitores. Se você não faz mil entrevistas, qual a possibilidade de você estar incluído se as questões são aleatórias. Então, quando se ouve isso é de uma ignorância tão grande que eu fico até com pena das pessoas que falam isso. Mas o que a gente pode fazer é exatamente orientar e explicar como acontece.
Portal Guará – Senhor acha que as pesquisas eleitorais são importantes para a democracia e porquê?
José Machado – Elas são importantes para os partidos porque eles se orientam e eles sabem como o trabalho deles está repercutindo junto ao eleitor. Eles estão trabalhando e precisam ter esse feedback. A pesquisa é o instrumento mais objetivo para que eles saibam exatamente o que a sociedade está pensando sobre eles. A outra parte é informar, se fala muito que pesquisa influencia o eleitor, mas se a pessoa tem convicção do voto, sobre o candidato ou o partido, a pessoa vai votar naquele candidato. No interior, em cidades pequenas, alguns eleitores diziam que “não iriam perder o voto” e se guiavam pelas pesquisas, mas é uma quantidade de pessoas cada vez menos. A própria Folha de São Paulo, através do instituto Datafolha, já fez uma pesquisa sobre a pesquisa. Isso uns 10 anos atrás e as pessoas que se influenciavam por pesquisas para votar não chegavam a 5%. Então essa é a realidade.