Por Saulo Marino
O governador Flávio Dino (PCdoB) e os demais governadores do Nordeste vão se encontrar na próxima sexta-feira (24) com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em Petrolina, Pernambuco, onde ele lançara o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE). Essa é primeira viagem oficial do presidente à Região e todos os governadores confirmaram presença no evento, além dos comandantes de Minas Gerais e Espírito Santo.
Bolsonaro virá para a região onde é rejeitado por mais de 40% da população que classificam sua gestão como ruim ou péssima, segundo pesquisa Ibope. E o evento acontece uma semana após o governo federal ser pressionado protestos maciços em diversas cidades do país contra os cortes na educação.
Ainda em janeiro, na primeira entrevista após assumir o cargo, Bolsonaro disse que os governadores nordestinos não deveriam pedir dinheiro a ele. “Não venham pedir nada para mim, porque não sou presidente. O presidente está lá em Curitiba”, disse ele, em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso em um controverso processo da operação Lava Jato. Na ocasião ele também disse que não abriria uma guerra política para não prejudicar os eleitores. “Não posso fazer uma guerra com governador do Nordeste atrapalhando a população. O homem mais sofrido do Brasil está na região Nordeste. Vamos mergulhar para resolver muitos problemas do Nordeste.”
A viagem começa em Petrolina (PE), onde o presidente vai entregar moradias do programa Minha Casa Minha Vida. Em Recife (PE), deverá anunciar um acréscimo de R$ 2,1 bilhões ao Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, a ser usado em obras de infraestrutura. Ao todo, o fundo passará a ter R$ 25,8 bilhões em 2019.
Até agora o presidente realizou 13 viagens oficiais dentro do Brasil, foi quatro vezes ao Rio de Janeiro, três vezes a São Paulo, duas vezes a Foz do Iguaçu (PR) e uma vez a Macapá (AP), Curitiba (PR), Navegantes (SC) e Ribeirão Preto (SP). Para o estrangeiro, Bolsonaro já foi duas vezes para os Estados Unidos,e uma vez para Israel, Suíça, e Chile.
Porém, esse não será o primeiro encontro do presidente com os governadores do Nordeste. Em uma reunião recente em Brasília, ministros apelaram por mais apoio à reforma da Previdência e argumentaram que, apesar das diferenças políticas, não era mais tempo de “palanque”. Os nordestinos disseram que não estavam lá para negociar troca de favores e sim para encontrar soluções para os problemas políticos e sociais da Região e do Brasil. Em carta aberta após encontro, os governadores reclamaram ainda dos cortes orçamentários nas universidades e institutos federais, justamente o que motivou as marchas pelo país dias depois, e solicitaram a retomada de obras rodoviárias, de segurança hídrica e habitacionais, como forma de combater o desemprego. “A pauta dele não tem nada a ver com a necessidade do Brasil. Dar arma a vereador, tem coisa mais velha que isso?”, comentou um governador, reservadamente, ao jornal paulista Estadão.
Após perder a eleição em todos os estados do Nordeste, Bolsonaro afirmou que tinha como meta extinguir os comunistas do Maranhão até 2022. Em busca de popularidade na Região, ele encomendou com sua equipe um pacote de ações locais, que ficou conhecido como Agenda Nordeste, com ações que vão desde o pagamento de 13.º Bolsa Família; a aquisição de alimentos da agricultura familiar e crédito fundiário (a cargo a pasta da Agricultura); ligação por internet em escolas rurais e o estímulo ao interesse por ciências ( Ciência e Tecnologia e Educação); a a instalação de cisternas nas escolas (do Ministério da Cidadania), que também anunciou. Até agora, apenas o 13.º saiu do papel. Causou reboliço, entretanto, que a metodologia escolhida para a distribuição da verba para a realização das ações, baseado em critérios do IBGE, que estabelece 41 regiões prioritárias e nove capitais, deixou de fora por completo o Maranhão, estado mais pobre do Brasil e justamente o único a ser governado por um político do Partido Comunista do Brasil.
Ao saber que o Maranhão estava fora dos planos, políticos como o senador maranhense Weverton Rocha (PDT) entraram com recursos e exigiram explicações. Em mais um recuo, o governo retrocedeu e disse que todos os estados da região entrariam no plano.
O Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste precisa tramitar no Congresso Nacional para ser transformado em lei. No dia 30 de maio ele será enviado ao Planalto e tem de chegar até agosto ao Congresso. Aí sim, durante a discussão, políticos vão trabalhar para garantir o orçamento aos seus estados.