Durante dois dias diversos temas relevantes da medicina foram debatidos na III Jornada de Medicina da UNDB, evento promovido pelo Curso de Medicina da UNDB que já é tradicional no meio acadêmico. O evento reuniu em São Luis destacados profissionais, que debateram temas ligados à inovação na prática médica, nos dias 16 e 17 de maio.
O presidente docente da III JOMED e Professor do Curso de Medicina da UNDB, Dr. Rodrigo Sevinhago, frisou o papel da Jornada na formação dos futuros médicos: “A JOMED visa integrar tanto o conhecimento teórico, quanto vivências práticas e trabalhos científicos voltados à produção acadêmica, com o intuito de fomentar a ciência e as inovações na área de saúde. A JOMED é sempre um evento de suma importância na formação dos futuros médicos” destacou.
O Coordenador do Curso de Medicina da UNDB, Dr. Ivan Figueiredo, destacou a importância do tema dessa terceira edição da JOMED, e como a inovação está relacionada com a proposta pedagógica do Curso de Medicina:
“A Inovação é um tema altamente pertinente e oportuno, precisamos refletir sobre isso, pois a realidade exige dos médicos muita informação e uso de tecnologias. E tudo isso converge com a proposta do Curso de Medicina da UNDB, que tem como característica uma formação bastante sólida do ponto de vista técnico, mas também com uma pegada muito humanística e relacional. Nossa missão é formar médicos e médicas responsáveis socialmente, competentes relacionalmente, além de excelentes no ponto de vista técnico. Somos muito exigentes com nossos alunos, mas isso tem gerado bons resultados no desempenho deles no mercado” afirmou o Coordenador.
Uso de IA nos consultórios
Keneth Corrêa (SP), especialista renomado nacional e internacionalmente em Estratégia e Crescimento de Negócios palestrou sobre “Inteligência Artificial para agilizar o Consultório”. Com uma carreira marcada pela atuação em grandes projetos de marketing, dados e inovação, Kenneth é Administrador, Diretor de Estratégia na 80 20 Marketing, CTO da MedGuias, professor de MBA na FGV e autor do livro Organizações Cognitivas.
Ele defende o uso da IA (Inteligência Artificial Generativa) para gerar ganhos de produtividade de 20 a 40% só com o uso das diversas ferramentas disponíveis. Não se trata mais de questionar, mas sim, de aprender a usar a IA incluindo os médicos em seus consultórios. “Quem trabalha com palavras, imagens, números ou sons precisa, de fato, fazer uso de IA para garantir maior produtividade e não perder competitividade” alertou o especialista aos futuros médicos.
Desafios da residência médica
Na conferência magna de abertura o tema foi “Panorama da residência médica no Brasil” com mediação do Dr. Artur Serra, professor do curso de Medicina da UNDB e tendo como palestrante convidado o médico e autor Dr. Fernando Sabua Tallo (SP).
Ele é referência nacional em Clínica Médica, Urgência e Emergência. Com sólida formação acadêmica, Fernando Tallo é Pós-Doutor pela UNIFESP, onde também atua como chefe de enfermaria e supervisor do programa de residência médica em Clínica Médica. Ele é Secretário-Geral da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein.
Ele destacou o papel relevante da residência médica e seu impacto na complementação profissional dos médicos e médicas, e alertou para o grande prejuízo de quem não faz a residência médica:
“A residência conta com 80% de ensino em serviço, só 10% a 20% do ensino da residência médica é teórico. Isso é extremamente importante, pois significa duas mil oitocentas e oitenta horas por ano, sendo 90% dessas horas, trabalho em serviço. Um residente trabalha 60 horas por semana. São de 3 a 5 anos, dependendo de qual residência estamos falando; na qual o médico vai aprender pelos seus próximos 40 anos de vida profissional. Jamais dê ouvidos a quem falar que a residência médica não é importante, isso é falso. Todos nós que fizemos residência médica, carregamos conosco o que aprendemos naqueles anos” defendeu Fernando Tallo.
Mas ele alertou para a explosão de cursos de medicina no Brasil e o desequilíbrio no mercado; além dos riscos de quem não faz a residência médica, indo na contramão das práticas médicas em países desenvolvidos:
“A residência é o padrão ouro da formação. É absolutamente inimaginável no mundo atual, que em países desenvolvidos como França, Reino Unido ou Estados Unidos, um médico recém-formado coloque as mãos no paciente. Primeiro ele faz a residência e só depois passa a atender pacientes. No Basil, o problema é que houve uma explosão na oferta de vagas de graduação em medicina, em especial no ano de 2014 quando foram abertas 39 faculdades de medicina no país. Isso provocou a atual realidade, que é o grande número de pessoas que se formam versus um número reduzido de vagas de residência, criando um grande desequilíbrio. Em 2024 foram abertas mais 40 faculdades médicas e em 2025, só até maio, já abriram mais 26 cursos. É praticamente impossível se acompanhar o número de graduandos com o número de residências disponíveis” alerta o médico.
Feranando Tallo citou o mercado internacional. Segundo ele, no exterior, os médicos que não possuem especialidade são apenas aqueles que não vão clinicar, aqueles que terão atuação voltada para a pesquisa, para o ensino ou para a indústria farmacêutica. Na França, 40% dos médicos franceses são médicos de família generalistas, mas para isso, passaram por uma residência antes. E no Brasil, muitos médicos não terão acesso à residência, e estão clinicando sem ter uma experiência prévia:
“O único país onde um médico sai da faculdade, sem nunca ter entubado ninguém, e vai direto para um pronto socorro entubar um paciente é o Brasil. E esse modelo está muito errado. Imagine um familiar seu ser atendido por um médico sem nenhuma experiência… Por isso defendemos um novo modelo de licenciamento médico no Brasil, pois será impossível absorver todos os formandos em programas de residência. E contamos com as boas faculdades que existem no país e com os bons alunos de medicina para nos ajudar a mudar essa realidade. Mas quem puder, que faça a sua residência médica, pois é fundamental” deixou como mensagem o especialista.
Vantagens do uso de pele de tilápia em queimaduras
No último sábado (17), segundo dia da JOMED, a programação abordou vários temas e teve como destaque a palestra magna de encerramento com o Dr. Marcelo Borges (PE). Ele palestrou sobre o “Uso da pele da tilápia em queimaduras” com mediação da Dra. Monique Santos do Carmo e Dr. Artur Serra.
Cirurgião plástico, Dr. Marcelo Borges foi pioneiro em cirurgias de reconstrução com pele de tilápia em queimados; e é referência nacional e internacional no tratamento de queimaduras. Médico cirurgião plástico reparador, é reconhecido por sua atuação pioneira na área e falou sobre essa experiência exitosa no trato de pacientes vítimas de queimaduras e feridas
A tilápia pertence à espécie Oreochromis niloticus, é o peixe mais cultivado do Brasil e tem excelente aceitação pelo mercado. Sua pele é um subproduto de descarte da indústria de alimentos, o que a torna uma matéria-prima de baixo custo e alta disponibilidade. Portanto, os dispositivos produzidos a partir da pele de tilápia solucionam um problema ambiental da indústria, tendem a ser baratos e acessíveis, com potencial para gerar relevante impacto financeiro e social no sistema de saúde brasileiro.
Na rede pública brasileira, os queimados são usualmente tratados com pomada antibiótica, que exige trocas diárias de cobertura da ferida e provoca intensa dor. O novo curativo com tilápia reduz em quase 50% os custos ambulatoriais do tratamento e diminui a dor do paciente, melhorando substancialmente sua recuperação e a qualidade de vida.