segunda-feira, 20 de maio de 2024

Mães atípicas: a invisibilidade do cuidado

Uma a cada 36 crianças têm autismo. A estatística é do órgão de saúde Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. Gardênia Maria Rodrigues Dias, de 27 anos, auxiliar de cozinha, é mãe de uma dessas crianças. Aos cinco anos, seu filho Gabriel foi diagnosticado com autismo nível 3. “Eu observava, angustiada, o desenvolvimento lento e abaixo do esperado do meu filho. Ele não falava e era anti-social”, compartilha Gardênia. Para a mãe, a descoberta do autismo trouxe sentimentos de medo e impotência, mas também despertou nela uma força inabalável para lutar e superar todas as dificuldades. “O sorriso do meu filho e o olhar dele me impulsionaram”, confessa.

No mês das mães, pouco se fala da mãe atípica. Essas mulheres enfrentam desafios únicos ao cuidar de filhos com deficiência, lidando com cansaço, estresse e obstáculos sociais que nem todos compreendem, numa luta que é tanto sobre o desenvolvimento dos seus filhos quanto por direitos e oportunidades sociais. Com tantos obstáculos a serem transpostos diariamente, não é raro que essas mães se sintam discriminadas ou excluídas da sociedade – e sofram com questões emocionais.

Entender e enfrentar os desafios que acompanham a maternidade de crianças autistas é uma jornada complexa, que vai além do diagnóstico. O professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio São Luís, Erickson Carvalho, cita a pressão social sobre essas mães.

“Primeiro, elas têm que lidar com a singularidade do autismo, as especificidades da criança, a aceitação do diagnóstico. No meio de todo esse processo, que não é fácil, elas precisam ainda lidar com a própria autocrítica. Muitas dessas mães se perguntam se estão fazendo as coisas certas, se erram em alguma coisa. Todo esse desgaste emocional pode levar a crises psicológicas”, destaca o profissional.

O acúmulo de funções e o pouco tempo para si próprias podem fazer com que essas mães entrem em colapso – um fenômeno conhecido como “burnout materno”. Para lidar com esses desafios, Carvalho ressalta a importância de estratégias psicológicas e de autocuidado. “Praticar técnicas de relaxamento, ter um momento só para si, para se cuidar e realizar alguma atividade que gosta, fazer terapia, que também é necessário”, explica o profissional.

No final das contas, a importância do bem-estar materno é fundamental para garantir que essas mães tenham o apoio necessário para enfrentar os desafios únicos que acompanham a criação de uma criança autista. Em última análise, o cuidado com a mãe também é essencial. “Eu digo que a terapia nunca é somente para a criança, também é para essa mãe”, enfatiza Carvalho.

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