Por Saulo Marino
O jornal carioca O Globo anunciou que o governo Jair Bolsonaro (PSL), está preparando uma série de ações para se aproximar dos eleitores do Nordeste, como forma de mostrar que não guarda rancor por ter recebido na Região apenas 30% dos votos no segundo turno. Além do já anunciado 13º salário, o Ministério da Agricultura pretende divulgar um pacote de apoio aos produtores rurais de oito microrregiões carentes, mas que deixa de fora o Maranhão, o estado mais pobre do Brasil.
Segundo o diário O Estado de S.Paulo, as microrregiões foram sugeridas pela Embrapa, empresa estatal, e teve como coordenação o professor Evaristo de Miranda. Elas estão próximas dos municípios de Euclides da Cunha (BA), Araripina (PE), Batalha (AL) e Canindé do São Francisco (SE), Vale do Açu (RN), Cariri (PB) e Baixo Jaguaribe (CE), além do sul do Piauí. O Maranhão ficou de fora por “não fazer parte do semiárido nordestino”.
Foi no estado maranhense que Bolsonaro teve um dos piores desempenhos nas urnas (com apenas 26,7% dos votos válidos, contra 73,3% para Fernando Haddad). Ainda durante a campanha ele prometeu varrer o comunismo do Maranhão, mas viu Flávio Dino (PCdoB), comunista declarado e crítico de primeira linha contra as ações do governo federal, ser reeleito no primeiro turno.
Após as eleições, em entrevista ao jornal Le Monde Diplomatique, o governador maranhense foi questionado sobre a possibilidade de Bolsonaro implementar o 13º bolsa família como forma de aumentar sua popularidade no Nordeste. “É claro que uma medida utópica dessa seria bem vinda, e eu sou defensor de políticas sociais de um modo geral, venha de onde vier. Porém, insuficiente para imaginar que com isso se iria comprar a consciência da população. É preciso ver o conjunto da obra para entender o motivo pelo qual os nordestinos votam à esquerda. O lulismo se firmou como uma corrente popular mais forte da história brasileira pelo conjunto da obra, não por uma medida só”, afirmou Flávio Dino na época.
O atual projeto voltado para a Agricultura Familiar, que exclui o Maranhão, tem como foco a irrigação e deve começar a ser desenhado na próxima segunda-feira (15), quando está marcada uma uma reunião na Casa Civil, comandada pelo Ministro Onyx Lorenzoni, com a participação de Gustavo Canuto, ministro do Desenvolvimento Regional, Ricardo Sales, do Meio Ambiente, Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, e Tereza Cristina, da Agricultura e Meio Ambiente. Segundo O Globo, o presidente irá propor a busca de uma cooperação tecnológica com Israel para dessanilizar a água para utilizar na lavoura. Ao mesmo jornal, um técnico da Embrapa disse que “essa tecnologia não tem viabilidade de aplicação para o sertão nordestino”.
Pelo tuíter, o Senador Weverton Rocha (PDT) disse que é inaceitável o governo federal deixe o Maranhão de fora de qualquer projeto que vise beneficiar famílias carentes da Região. “Já estou buscando as alternativas legislativas para que o Maranhão seja incluído e vamos reunir a bancada para buscar meios de garantir isso. O nosso estado tem regiões no semiárido que precisam de incentivo e vamos lutar para que seja parte desse pacote de fomento”, escreveu.
Weverton tuitou que estava se deslocando até o Ministério da Agricultura, acompanhado pela bancada federal maranhense, para “batalhar pela inclusão do Maranhão no pacote de fomento à agricultura anunciado pelo governo federal”.
A iniciativa do Governo Bolsonaro em olhar para o Nordeste pode estar ligada ao fato de que a articulação politica da situação ter identificado que os parlamentares da Região estariam sendo pressionados por seus eleitores para votarem contra a reforma da previdência. O 13º Bolsa Família e o projeto de irrigação para a Agricultura Familiar funcionariam como uma moeda de troca, uma espécie de contrapartida. Os nordestinos possuem 151 cadeiras na Câmara dos Deputados Federais, sendo apenas 18 pelo Maranhão.