O acidente entre um boeing da companhia aérea Gol e um jato Legacy, ocorrido no dia 29 de setembro de 2006, provocou mudanças em procedimentos de segurança na aviação civil do Brasil. Segundo o major-aviador Carlos Henrique Baldin, a tragédia, que resultou na morte de 154 pessoas, trouxe muito aprendizado e possibilitou o crescimento da aviação, reduzindo os riscos de novos acidentes parecidos.
“O risco de colisão está muito menor, hoje as chances são mínimas. Na época, elas já eram reduzidas, mas teve uma sequência de encadeamento de falhas que resultaram no acidente. Mas, hoje, eu diria que elas são bem menores do que na época em que ocorreu o acidente”, diz o porta-voz e investigador do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Na investigação do acidente feita pelo Cenipa foi identificado que havia uma dificuldade de comunicação na área em que o Legacy e o boeing estavam voando. “Naquela área de selva existem vários fatores que dificultam a comunicação, então houve a necessidade de equipamentos mais modernos, com alcance e potência maiores”, diz o major Baldin. Depois do acidente, o sistema operacional que é utilizado pelos controladores foi atualizado, para emitir sinais que alertem quando algo não está de acordo com o esperado.
Além disso, as rotas de navegação aérea foram revistas. “Hoje, elas permitem um fluxo maior da aviação, mas também reduzem a possibilidade de erro ou confusão, como foi o caso do nível incorreto das aeronaves”, diz o major. No momento do acidente entre o boeing da Gol e o jato Legacy, as duas aeronaves estavam na mesma altitude, porque o Legacy não seguiu uma recomendação de descer para 36 mil pés naquele trecho.
Outra mudança foi o aumento do efetivo de controladores de tráfego aéreo no país, que passou de 2.824 para 4.230 nos últimos dez anos. A formação e o treinamento desses profissionais também foram reforçados, especialmente em função do novo sistema operacional que está sendo utilizado. Hoje, há um simulador em São José dos Campos para que os controladores possam treinar e identificar falhas.
O acidente ocorreu quando o Boeing 737-800 da Gol foi atingido em pleno voo por um jato Legacy. A ponta da asa esquerda do jato Legacy colidiu com o boeing da Gol, provocando a desestabilização e a queda do avião em uma área de floresta. Segundo as investigações, os pilotos do Legacy desligaram o transponder, que é um aparelho obrigatório que informa a posição e altitude das aeronaves aos controladores de voo, e o TCAS, que informa ao piloto a existência de outros aviões nas proximidades.
Causas do acidente
A investigação do Cenipa sobre o acidente ocorrido em 2006 mostrou que entre os fatores que contribuíram para o choque entre as duas aeronaves está a falta de experiência dos pilotos do Legacy, Joseph Lepore e Jean Paul Paladino, para operar o equipamento. “Os pilotos tinham pouca experiência na aeronave, eles tinham feito curso inicial de adaptação e ambientação, foram considerados aptos, mas tinham pouco tempo de vivência operando aquele equipamento”, explica o major Baldin.
Ele também aponta a falta de planejamento do voo, que fez com que os pilotos não atentassem para a necessidade de mudança de altitude naquela rota. Houve também uma falha no relacionamento e na divisão de tarefas entre os pilotos. “Em boa parte do voo percebeu-se que eles estavam mais focados em conhecer o funcionamento da aeronave e isso pode ter contribuído para que não tivessem percebido a questão do transponder ou a necessidade de troca de nível”.
Os pilotos norte-americanos foram condenados a reclusão de três anos, um mês e dez dias em regime aberto, mas ainda não foram notificados da sentença.