sexta-feira, 26 de abril de 2024

Nordestino vence o maior prêmio da literatura brasileira

O escritor cearense Mailson Furtado Viana quase não compareceu à cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti, maior premiação da literatura no Brasil, tão pequena era sua expectativa de ganhar. Mas o livro de sua autoria “À Cidade”, feito de forma independente, não apenas venceu na categoria “melhor poesia”, como também na do “livro do ano”.

A premiação do livro, que traz elementos geográficos, históricos, folclóricos e do cotidiano do povo da região Norte do Ceará, foi bastante comemorada pelo autor. “É a primeira vez que um livro independente, sem editora, ganhou como o melhor livro do ano. Isso traz uma simbologia forte no sentido de abrir portas”, explica. “O prêmio também abriu essa esperança, de poder viver de arte aqui no Sertão”, completa.

Em entrevista ao portal CulturaGeraFuturo, Mailson fala sobre gosto pela literatura, inspirações e importância da economia criativa para o desenvolvimento econômico e social do País.

Confira a entrevista com o escritor:

Quando começou o seu gosto pela literatura?

Desenvolvi gosto pela leitura na adolescência. Tinha uma turma de amigos e gostávamos muito da parte artística, de música, de literatura e de teatro. Queria escrever algo parecido com bandas e cantores que ouvia. Mas como não sabia tocar instrumentos, esses escritos me levaram para a poesia e o verso. A partir daí, fui buscando outras coisas, comecei a ler mais poesia, literatura, comecei a fazer teatro e a escrever peças.

O que te inspirou a escrever “À Cidade”?

Tem algo marcante, que é o livro “Romance da Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna, que li em 2015. Ele fala do sertão da Paraíba e de Pernambuco e tive a oportunidade de conhecer a região pela minha companhia de teatro “Criando Arte”. Cheguei lá e tive a sensação de conhecer a região simplesmente por ter lido livro e voltei com vontade de escrever para passar a mesma sensação, da cidade em que vivo, Varjota (localizada no noroeste do estado).

O que esse prêmio representa para você?

É um reconhecimento do meu trabalho. Tem uma questão positiva do prêmio deste ano porque é a primeira vez que um livro independente, sem editora, ganha como o melhor livro do ano. Isso traz uma simbologia forte no sentido de abrir portas para que o mercado veja algo além, porque hoje a maioria da literatura é feita de forma independente e o grande mercado nega isso. (Ajuda também) o próprio leitor a abrir os olhos para esses livros independentes e para a gente aceitar coisa nova.

Além de dentista, produtor e escritor, você é fundador da Companhia de teatro “Criando Arte”. Pode nos falar um pouco sobre isso?

A minha profissão é dentista e é ela que me sustenta. Trabalho numa cidadezinha aqui perto. A Companhia surgiu em 2006. Dirijo, sou diretor, escritor e ator, é um grupo e circulamos aqui na região norte, às vezes vamos para outros locais do Ceará e do Nordeste. Estamos com circulação de dois espetáculos: um infantil e outro que traz o cotidiano da região. Traz essa questão de acreditar na juventude no sertão, que podemos viver de arte aqui, traz essa discussão. Acho que o prêmio também abriu essa esperança, de poder viver de arte aqui no sertão. Não sei se vai se concretizar (risos). (Para mim) É como se o prêmio fosse de todo mundo aqui.

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