Temos vivido tempos estranhos. Revendo a história talvez até consideremos a nossa época nem tão estranha assim.
Uma das marcas de nosso tempo é a intolerância religiosa. Mas essa conduta não é novidade. Aliás, exatamente pelos exemplos que temos no curso da civilização (se é que esse termo está correto para o que pretende expressar), não há como negar que a religião – como as ideologias – tem sido instrumento de poder.
O importante, no meu entendimento (mas não sou dono da verdade), é que cada ser humano saiba distinguir a fé da religião, a cidadania das ideologias.
O problema começa quando as pessoas pretendem, no diálogo ou no debate, impor o seu próprio conceito sobre os vocábulos usados em qualquer um desses processos.
Para fé, entretanto, prefiro o que disse João Mohana em um de seus livros: você tem ou não tem. Não se explica.
Então, quando a fé é atacada, trata-se de violência só explicada pela estupidez da natureza humana, pelo egoísmo, porque é extrapolar da sua individualidade para interferir na do outro, proibindo-o de ter a sua fé ou, o que é mais absurdo, impondo-lhe outra.
Esse é o mundo que continuamos vivenciando, de situações ameaçadoras e assustadoras, não porque sejam novas, mas porque, com os avanços da tecnologia nos meios de comunicação, mais pessoas passaram a ter conhecimento dessa realidade grotesca, em menos tempo.
Já não são as novelas radiofônicas ou televisivas que dão ideia da maldade humana. Ela tem sido apresentada em tempo real. Nenhum teatrólogo ou roteirista consegue, por mais criativo que seja, superar a crueldade e a impiedade que os noticiários apresentam.
É preciso muita coragem para ter e manter a fé.
Da mesma forma é preciso muita esperança para acreditar que essas circunstâncias possam mudar, se elas são fruto delas mesmas, ou seja, das circunstâncias em que vivemos, onde viceja a impunidade, onde a fome e a sede de justiça esbarram na fraqueza humana, naquela mesma que levou Rui Barbosa a vaticinar sobre a vergonha de ser honesto.
Nesse charco da humanidade, entretanto, brotam exemplos como o de Antonio Sinibaldi, o sacerdote italiano que, precisamente num dia 7 de setembro de anos atrás, veio a falecer numa praia da cidade à cuja comunidade se doou durante 16 anos, até seu sacrifício inesperado, no percurso da ilha de São Luís para a do Medo, onde seu coração parou, exausto, na tentativa de salvar o maior número possível dos jovens que se debatiam nas águas da baía de São Marcos.
Não sei se Sinibaldi será canonizado ou sequer beatificado, mas são pessoas como o Frei Antonio que dão forças para os que têm de conviver com a hipocrisia dos que poderiam fazer a diferença nos cargos públicos que ocupam. Sepulcros caiados, vestais desnudadas, não disfarçam seu desprezo pela decência, pela moral, pela ética.
De nada lhes adiantou o sagrado apelo na Cruz: “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem”.
Sabem. Tentarão justificar-se no Juízo Final: – Era a minha natureza!
Ainda assim, Pai, perdoai-lhes.