Hamlet: ser ou não ser – eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz? Ou pegar em armas contra o mar de angústias – e, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir; só isso. E com o sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer – dormir – dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciente recebe dos inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem aguentaria fardos, gemendo e suando numa vida servil, senão porque o terror de alguma coisa após a morte – o país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos pra outros que desconhecemos? E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.
Se o prezado leitor teve a paciência de ler o trecho acima e chegou aqui, mais paciente ainda, é por que há uma ansiedade generalizada entre as mentes pensantes de nossa cidade.
Mas o que o príncipe Hamlet, de Shakespeare tem a ver com isso? Esse monólogo do príncipe acontece quando ele volta para o país natal (a Dinamarca) para concluir sua vingança contra o tio que matou seu pai (o rei Hamlet) e tomou, além do trono, a mulher do rei, mãe do príncipe Hamlet.
A maioria das tragédias shakespearianas trata de poder e política. Há quase sempre um tirano, uma traição e muitas mortes. Era um tempo de muito sangue, muita honra e muita coragem.
Este monólogo de Hamlet ocorre dentro de uma sepultura, onde ele lamenta o tratamento, pós-morte dado ao bobo da corte (Yorick) que o alegrou quando criança. E é ali, no túmulo do palhaço que ele decide tomar coragem e agir; levar em frente seu plano e não suportar mais ver um déspota no trono, ainda mais, o assassino do pai dele.
E o que isso tem a ver com a política do Maranhão? Alguém poderia dizer que seria a frase da mesma peça que diz “Há algo de podre no reino da Dinamarca!”. Mas não, tem a ver com diálogos e monólogos. Na política de São Luís, enquanto havia muitos candidatos (primeiro turno) houve diálogos. Como os debates realizados por emissoras de rádio e TV e a sociedade civil organizada. Onde tivemos Braide, Wellington, Eliziane, Câmara e Rose discutindo os problemas de São Luís.
Brincando com Maquiavel, diríamos que temos dois príncipes postulantes ao “trono” da capital. Só que no segundo turno, dentro da arena dos debates, a disputa virou um monólogo de Eduardo Braide. Edivaldo se recusa prontamente a debater cara a cara os problemas e o histórico de gestões em São Luís. Foi assim mais uma vez ontem na sabatina organizada pelo jornal O Imparcial.
Desde semana passada, no programa eleitoral e nas inserções, Edivaldo ensaia um tom empertigado, desafiando Braide para um único debate, numa emissora de TV. E as outras, que ele não compareceu? Seria essa emissora o túmulo de seu bobo Yorick? Será que somente ali, tomado de uma força extrema, ele vai “destruir” Braide e partir para sua conquista?
Modesta e humildemente o deputado Eduardo Braide vem seguindo numa campanha clara e aberta, participando de entrevistas, inclusive onde sabia estar entrando em “caverna de leões”, como foi o caso da Sabatina da TV Difusora, onde o candidato foi afrontado, com palavras duras e atitudes pouco profissionais, quando, mantendo a dignidade chegou a pedir “calma” a um jornalista.
Mas apesar do corajoso desafio de Holanda Júnior, parece que mesmo o debate em espaços confortáveis para ele, pode não ocorrer. O embate entre homens, agora, não se dá mais por coragem, honra, dignidade, ou ideologia, mas sim por estratégia de marketing, baseado em pesquisas “quali” e cálculos matemáticos. E os cálculos podem dizer que ele perde menos fugindo mais uma vez.
Vivemos um choque de ética. As estratégias de conquista do poder têm sido verdadeiros rolos compressores sobre a República. Nada mais importa; muitas vezes nem a lei (isso os tribunais decidem mais na frente), nem o bem comum, e nem as velhas práticas coronelistas, imperialistas e oligárquicas.