sexta-feira, 29 de março de 2024

Quantidade de crianças com obesidade alerta médicos na pandemia

O aumento do número de casos de crianças que estão com excesso de peso ou que apresentam um quadro de obesidade tem preocupado a comunidade médica e reacendido o alerta para as consequências do problema. De acordo com a Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica, nos últimos treze anos, a taxa da população obesa saltou em 67,8%, no país. Dados do Ministério da Saúde apontam que 12,9% das crianças entre cinco a nove anos de idade estão obesas; bem como 7% dos adolescentes entre 12 a 17 anos de idade. Estes números levam em consideração 4,4 milhões de crianças e adolescentes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Com a pandemia estes índices parecem ter ganhado ainda mais força, pelo menos é o que já observam médicos e especialistas em seus consultórios. A pediatra do Sistema Hapvida, Alinne Barros, é uma das profissionais que têm alertado pais e mães sobre os riscos dos filhos estarem acima do peso, muitas com quadro de obesidade. “O fato das crianças estarem mais tempo em casa, sedentárias, sem contato com outras pessoas, fez com que elas acabassem desenvolvendo uma compulsão alimentar muito grande e de difícil controle”, atenta. “Os pais não sabem o que fazer. As crianças estão comendo absurdamente fora de controle”, reforça.

A especialista explica que fatores genéticos e doenças de base podem deixar meninos e meninas propensos a desenvolver obesidade. Crianças que sofrem de hipertireoidismo, que é uma metabólica, têm grandes chances de ficarem obesas. “É preciso investigar o que está levando aquela criança a ganhar peso. A obesidade infantil é preocupante porque ela vai desencadear outros problemas que vão afetar a saúde. Elas podem ficar hipertensas, adquirir diabetes ou manifestar alguma cardiopatia e ficar dependente de medicações”, sinaliza Alinne, que atua no Sistema Hapvida.

“É importante lembrar que não existem remédios para combater ou tratar a obesidade. Isto é feito com hábitos e alimentação saudáveis”, frisa a médica.

Covid-19

Outra preocupação da pediatra Alinne Barros em relação a obesidade infantil é com este período de pandemia de covid-19. Isto porque a infecção provocada pelo coronavírus é uma doença multissistêmica e pessoas obesas – sejam adultas ou crianças – podem apresentar elevado grau de comprometimento. “Não é só adulto e idoso que morre em decorrência de covid-19, crianças também. Meninos e meninas com excesso de peso e obesas podem manifestar complicações no quadro. Este risco tem feito muitos pais atentarem para o peso dos filhos”, ressalta.

Cuidados com a alimentação

No próximo dia 25, a pequena Ana Clara vai completar 3 anos de idade. Aos seis meses de vida, ela manifestou comportamentos que indicavam que somente o leite materno não mais a satisfazia. Desde então, a introdução de novos alimentos passou a ser motivo de preocupação para o pai dela, o digital influencer Paulo Henrique Gaia, 27. “Foi um aprendizado porque até hoje mantenho o cuidado para não dar à ela alimentos com muito açúcar, gorduras e sódio. Até mesmo no açaí dela não colocamos açúcar, por exemplo. Tudo é natural para evitar que ela adquira sobrepeso”, relata.

Os esforços de Paulo têm dado certo e a menina tem se mantido no peso ideal. A partir do ano que vem, ela começará a ir para a escola e ele já começou a pesquisar o que as cantinas oferecem para a garotada. “Ela vai levar o lanche dela, é claro, mas preciso tomar cuidado para que alguém não vá oferecer refrigerantes para ela, por exemplo. Também não quero que ela coma salgadinhos industrializados”, disse.

Para a nutricionista Alana Diniz o excesso de peso e a obesidade infantil podem ser reflexo do que os pais servem para os filhos. Em meio a rotina conturbada e corriqueira, a alternativa mais rápida acaba sendo oferecer os alimentos considerados vilões da segurança alimentar. “Os alimentos que mais prejudicam a dieta infantil são os embutidos (salsichas, mortadela), os refrigerantes, os sucos industrializados, os salgadinhos, doces, biscoitos recheados, nuggets, macarrão instantâneo”, aponta. “Esses produtos possuem uma alta quantidade de sódio, açúcar, gorduras saturadas, conservantes etc. Essas substâncias podem provocar diabetes, obesidade, hipertensão arterial, cardiopatias e outras doenças”, alerta.

Ela recomenda para os lanches da garotada uma fonte de proteína, uma fruta, um carboidrato e uma bebida saudável. “Sucos naturais de frutas, cookies caseiros, sanduíches naturais, frutas in natura, bolos caseiros de frutas, queijos brancos, pães caseiros, cereais (granola com pouco açúcar, aveia)”, sugere.

Alana sabe que introduzir uma dieta saudável para a molecada não é fácil, principalmente quando se trata de legumes e verduras, onde a resistência acaba sendo maior. E o consumo de refrigerantes e ultraprocessados pode contribuir para que eles recusem alimentos saudáveis. Pratos coloridos (salada) pode ser uma boa estratégia para agradar a garotada. A alimentação saudável e equilibrada garante o fortalecimento do sistema imunológico de qualquer pessoa, em qualquer fase da vida – criança ou adulto. “Sempre deve ter frutas, verduras, legumes, oleaginosas que são ricos em minerais e vitaminas”, pontua.

Atividades físicas podem ser variadas

Em relação ao tipo de atividade física que as crianças podem praticar, o educador físico Raphael Furtado considera importante que a garotada experimente as mais variadas práticas esportivas, sejam elas individuais ou coletivas. Isto vai combater o sedentarismo e ajudar no desenvolvimento da coordenação motora e saúde de meninos e meninas, além de contribuir para o fortalecimento do sistema imunológico. “O sedentarismo infantil pode ser fator de risco para desenvolvimento de obesidade e outras doenças crônico-degenerativas, doenças cardiovasculares e diabetes”, adverte. “A falta de uma atividade física pode impactar nas habilidades motoras básicas. Andar, correr, saltar e arremessar podem ser afetados de maneira negativa devido ao sedentarismo”, acrescenta.

Furtado é professor do Centro Universitário Estácio, pesquisa os benefícios da atividade física regular também em meninos e meninas com menos de 16 anos de idade. Para ele não restam dúvidas de que a criança que se dedica a alguma prática esportiva tem mais chances de se tornar um adulto saudável, sempre estimulado a fazer exercícios físicos. “Não existe esporte ou modalidade melhor ou pior para crianças, elas devem passar pela maior quantidade de esportes possíveis. Porém, a especialização em uma modalidade (ou seja, o treinamento dessa modalidade) só pode ocorrer quando ela já estiver em um estágio avançado do desenvolvimento motor, e isso vai ocorrer quando ela tiver por volta de 12 a 14 anos de idade”, encerra.

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