A ala “rebelde” do PMDB, que resolveu desembarcar neste ano do governo Dilma Rousseff (PT), está cada vez maior e poderia arrastar até o presidente do partido: o vice-presidente da República Michel Temer. A afirmação é do deputado federal Darcísio Perondi (RS), reeleito no último domingo (5) com 109 mil votos para seu sexto mandato consecutivo na Câmara.
Vice-líder do PMDB na Câmara e presidente da Frente Parlamentar da Saúde, Perondi falou que há um sentimento “antipetista” crescente no Congresso e que o “movimento pró-Aécio” em seu partido fará “estragos” na campanha dilmista.
O parlamentar fez duras críticas à presidente, principalmente pelo fato de ela não ter recebido a frente parlamentar durante seu mandato, diferente do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao lado do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Perondi vem liderando um movimento que rachou o partido, que é o principal aliado do PT no Congresso.
Em reunião com 30 parlamentares do PMDB na quarta-feira (8), em Brasília, Perondi contou que apenas um deputado defendeu a continuação da aliança com o atual governo. Para ele, esse sentimento domina mais da metade da bancada peemedebista.
Atualmente com 71 parlamentares, o PMDB terá 66 na próxima legislatura — será a segunda maior bancada, atrás apenas do PT, com 70 deputados. Em terceiro aparece o PSDB, com 54 eleitos.
Perondi já enfrentará uma batalha frontal contra o PT nas próximas semanas: José Ivo Sartori, do PMDB, tenta desbancar o governador Tarso Genro, do PT, no Rio Grande do Sul.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
– Mesmo sendo da base aliada ao governo, por que apoiar o Aécio Neves no segundo turno?
Darcísio Perondi – Porque a proposta do Aécio é a melhor. O país precisa mudar. Primeiro mudar na decência, não roubar, não deixar roubar. Cuidar do dinheiro público mais do que o seu. Isso é uma máxima do Homero. Não gastar mais do que arrecada, outra máxima do Homero, filósofo do Império Romano, lembra? O “petrolão” é mil vezes mais que o “mensalão”. Então primeiro pela decência. O PT buscou o caminho do desvio nos últimos 12 anos.
Mas essas denúncias de corrupção na Petrobras não atingem o PMDB também?
Você está falando com um deputado federal, com 20 anos de mandato e que quer uma nova política, que sopra em todos os partidos, e quero essa dentro do meu partido. Respondi?
Então independente do seu partido, o senhor quer um novo caminho. É isso?
No Brasil, nós precisamos ter política como missão, e não como negócio. O inverso a Dilma comanda. O inverso a Dilma comanda, [e] eu não quero. Então primeiro a decência.
A segunda razão é 10% [do PIB] para saúde. A Dilma não recebeu em nenhum momento a Frente Parlamentar da Saúde. Em nenhum momento. O Lula recebeu algumas vezes. A Dilma não recebeu nenhuma vez, nem as Santas Casas. A crise da saúde pública de Brasília pra cima é uma verdadeira tragédia. Fico surpreso que a imprensa não coloca isso.
A terceira razão: a doutora Dilma errou de mão a condução da política macroeconômica. E arrumou culpado: o mundo externo. A Dilma é responsável pela paralisia econômica do País. Estamos vivendo uma ‘estagninflação’: juros altos, inflação alta e crescimento quase zero. (…) Que mais? Absoluto descontrole das contas públicas.
E quanto à situação do presidente do partido, o Michel Temer, vice da Dilma. Se ele cair não será uma derrota para o partido?
Não, não. A posição do vice-presidente Michel Temer é desconfortável.
Por quê?
A Dilma é onipotente, onisciente e onipresente, as três virtudes da divindade que ela incorporou. Nessa divindade, não houve lugar para essa figura extraordinária que é o Michel Temer.
Você acha que ele gostaria de deixar o governo Dilma?
Se pudesse, ele faria isso. Mas ele não pode mais. As circunstâncias impedem-no.
A maioria do PMDB já está com Aécio?
Não. A convenção nacional quase rompeu [com a Dilma]. A gente teve 42 votos para romper essa aliança com esse governo errado. Nós tivemos 42% dos delegados. Nós temos hoje quase a metade que não quer a aliança. Eu passei ontem o dia inteiro em Brasília, fizemos uma reunião de bancada, nós tivemos três dezenas de parlamentares, a portas fechadas, e apenas um defendeu a aliança [com o PT]. A maioria defendeu o Aécio e uma minoria ficou silenciosa. Só um defendeu a aliança.
Eram todos deputados que estarão na próxima legislatura?
Eram 30 deputados federais do PMDB e também tinha uma meia dúzia que eram novos. A maioria Aécio, que se manifestou fortemente, e uma minoria silenciosa.
Vou repetir a pergunta: a maioria do PMDB já está com Aécio?
Na reunião não estavam os 66 [parlamentares do PMDB], então não posso dizer que era a maioria. Eu acho que, no lápis, é capaz de passar da metade, mas eu não tenho condições de dizer. Na convenção [do partido em junho] nós tivemos 42%. E ontem numa reunião bem quente, com 30 parlamentares, foi assim. No lápis, daqui uma semana dá para dizer.
O partido poderia se unir em torno do Aécio antes do segundo turno?
Isso não. O partido oficialmente apoia a Dilma. [O que foi decidido na convenção] vai continuar valendo. Mas aqui no Estado estamos liberados.
Essa divisão pode causar prejuízos para o PMDB?
Não. Prejuízos para a candidatura da Dilma sem dúvidas. O PMDB é depois, vamos deixar para o ano que vem.
No ano que vem serão novos rumos?
Não vou falar do ano que vem, vou falar agora. Esse trabalho que o grupo pró-Aécio está fazendo fará estragos na campanha da Dilma. Isso eu te digo.
Então é esperar acabar as eleições para decidir os rumos do partido?
Uma atitude de cada vez. As conjecturas futuras eu deixo para sua inteligência. Mas eu fiquei impressionado. Ontem [quarta] a minha impressão em Brasília, no Congresso, fiquei impressionado. O sentimento antipetista cresce assustadoramente.
Mas isso já não acontecia antes das eleições?
Só que aumentou. O Aécio é da casa né. A Dilma chutou a canela do Congresso por três anos e meio. E o Aécio é filho da casa. O Aécio não tem as três virtudes da divindade. Ele não é onipresente, onisciente e onipotente. As três virtudes da divindade que a deusa Dilma incorpora.