sábado, 21 de junho de 2025

Youtuber negra, Nátaly Neri desabafa: “A gente se sente muito excluído”

Nátaly Neri, de 22 anos, cursa Ciências Sociais na Unifesp, em São Paulo, e criou o Afros e Afins no YouTube para falar sobre assuntos como beleza negra e empoderamento feminino. Com apenas um ano, a youtuber já foi reconhecida como uma influenciadora digital e conta com mais de 100 mil inscritos no canal. Ao R7, ela falou que a internet transformou sua vida.

— Não quero falar só sobre como faz para criar conteúdo, mas também sobre alternativas de quando você quer ocupar determinados espaços, disputar narrativas. Como a gente sabe, a internet cresceu muito nessa questão de conscientizar a sociedade e nós enquanto pessoas. A internet se tornou uma potência muito grande na minha vida. Ela ajudou a transformar a minha realidade e me ajuda a transformar a realidade de outras pessoas.

A jovem sabe da importância de pensar nos conteúdos que produz para atingir as pessoas da maneira mais acertada.

— Tenho muita responsabilidade no que produzo. Você acha que ninguém está se importando, mas estão vendo. Quero levantar discussões. Quando a gente fala com jovens, é muito preocupante, porque estamos formando caráter.

Nátaly ainda falou sobre representatividade e confessou que se sentiu pressionada por ser uma influenciadora.

— Não sei lidar com o protagonismo. Usava muita roupa marrom que era para ficar discreta e não aparecer. Hoje em dia até gosto de usar roupa marrom, mas não é mais por isso. Quando percebi que representava pessoas, entrei em colapso. Parece uma coisa boba, mas quem sou eu para representar uma mulher negra? Representatividade é algo muito complexo. É ter alguém parecido comigo. É perverso, mas a representatividade importa. Porque quem se sente representado por mim é porque não tem espaço para falar. Se ela se representasse, eu não precisaria ser modelo para ninguém.

A youtuber avaliou a importância de ter mais pessoas negras na plataforma para levantar discussões e questionar os valores impostos pela sociedade.

— A gente se sente muito não representado, excluído. A gente acha que, se falar, ninguém vai ouvir, não vai ser importante. Acreditava que eu não era importante e que não era interessante o que eu tinha para falar. Mas descobri que as pessoas ouvem esses espaços e que o mundo é uma grande bolha que começou há muitos anos com uma família branca e passou isso para os seus descendentes, que são donos de quase tudo. Então, a gente não tem acesso. Com isso, as alternativas são: ficar quieto e aceitar a realidade como ela é ou ocupar os espaços e buscar formas de ter voz, principalmente no Youtube, que é uma plataforma majoritariamente branca. Somos quatro pessoas negras. Isso não é assustador, é sintomático.

Segundo ela, as redes sociais não são tão democráticas quanto parecem ser.

— O lugar que seria democrático está sendo tomado por outras pautas. Algumas pessoas ainda acham que essas pautas sobre negros, LGBTs e minorias não são relevantes. A gente está vivendo e esse espaço está aí. Acho que no YouTube a gente tem oportunidade, é um espaço um pouco mais fácil de ocupar, mas não é livre, não é democrático. Se pretende ser, mas reproduz a sociedade. Esse é um problema.

Ela ainda criticou a criação de ídolos, pois adolescentes cultuam youtubers de maneira cega.

— A gente não tem que ver o YouTube como uma plataforma de criação de novos ídolos, porque essa galera é ídolo. E eles são de uma forma cega. Quando eles passam, as pessoas se jogam, mas a gente compreende que o YouTube está criando ídolos que estão formando caráter. Vamos aceitar isso por que tem quem fale por nós? Não, não tem quem fale. Somos pouquíssimos canais que levantam assuntos negros, LGBT. Se você tem vontade, produz conteúdo. Você tem que criar formas de dar voz à sua fala.

— A gente não tem que ver o YouTube como uma plataforma de criação de novos ídolos, porque essa galera é ídolo. E eles são de uma forma cega. Quando eles passam, as pessoas se jogam, mas a gente compreende que o YouTube está criando ídolos que estão formando caráter. Vamos aceitar isso por que tem quem fale por nós? Não, não tem quem fale. Somos pouquíssimos canais que levantam assuntos negros, LGBT. Se você tem vontade, produz conteúdo. Você tem que criar formas de dar voz à sua fala.

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