sexta-feira, 26 de abril de 2024

Professor da UFMA é afastado após acusação de assédio sexual; universidade silencia

Professor acusado de assédio sexual. Foto: Reprodução/Facebook

ALERTA DE GATILHO: O CONTEÚDO A SEGUIR CONTÉM RELATO DE VIOLÊNCIA SEXUAL.

No dia 16 de março deste ano, a Portaria MR nº 177, assinada pelo reitor da Universidade Federal do Maranhão, Natalino Salgado, afastou por 180 dias o professor do departamento de psicologia, Jadir Machado Lessa, após a denúncia de uma aluna. De acordo com a vítima – que preferiu não se identificar -, o professor a teria manipulado durante três meses, usando sua autoridade enquanto docente e psicólogo para assediá-la sexualmente.

A vítima fez a denúncia no começo de fevereiro, além de ter entrado em contato com o Centro Acadêmico (CA) de Psicologia para relatar o caso. “De imediato pude supor que seria algo ruim, considerando do histórico dele no nosso curso. Sempre envolvido com reclamações de abuso de poder, manipulação e casos de assédio moral”, conta a representante do CA, que não quis ter seu nome citado.

De acordo com a vítima, o assédio aconteceu primeiro de forma verbal, depois sexual. Ela e o professor se reuniam para uma monitoria, em sua sala na Universidade Integrada da Terceira Idade (UNITI), localizada no CEB Velho, na UFMA. O docente ia criando um ambiente de terapia, aos poucos instigando a aluna a falar sobre a sua vida pessoal, inclusive sexual.

“Ele me fez acreditar que tudo o que estava acontecendo fazia parte do conteúdo da cadeira de Psicologia Fenomenológica Existencial, que fazia parte do ‘fazer psicológico’, que ele era um mestre, um professor e psicólogo altamente renomado”, conta. Jadir dizia à docente que ela estaria, ainda, ‘presa às tradições e aos costumes sociais cristãos’, diz a vítima. “Eu sentia que se eu não compreendesse o que ele estava me dizendo, eu quem estava falhando enquanto estudante. Que se eu visse problema ou duvidasse, eu quem não estaria sendo competente”, desabafa.

Os assédios físicos teriam ocorrido três vezes. Da primeira vez, a vítima diz que Jadir havia a desafiado a mostrar os seios, utilizando argumentos da vertente existencialista da psicologia e citando, ainda, mulheres empoderadas que mostravam o corpo por vontade própria. Ainda segundo o relato, a aluna se recusou a mostrar seu corpo; ele aceitou, os dois conversaram sobre a monitoria normalmente e, depois, saíram da sala.

“Quando estávamos indo embora, eu perguntei para ele como eu estava me saindo na monitoria e ele disse que eu estava indo muito bem, fez outros muitos elogios. Então, ele finalizou dizendo: ‘mas, infelizmente, no teste final, você reprovou’. Eu me senti extremamente mal. (…) Nós voltamos para a sala e eu mostrei. Ele não tentou me tocar nem nada, apenas me parabenizou e disse que eu havia conseguido passar e me libertar das minhas questões”, relata a vítima.

Nos últimos dias da monitoria, Jadir teria começado a pedir toques. Dentre muitos atos, a estudante expõe: “ele me fez tocar no pênis dele mais de uma vez, me fez colocar e tirar uma camisinha nele, me fez limpar o pênis dele sujo de esperma”, além de ter que deixá-lo tocar em seu corpo. O professor chegou, também, a bater no rosto da aluna – segundo ela.

Como é comum em casos de violência sexual, a vítima afirma não ter percebido, de imediato, o que havia ocorrido. “Quem percebeu não fui eu, foi minha família. Eu estava muito estranha, completamente diferente de quem eu sou”, explica. “Elas que me mostraram o que havia acontecido. Eu ainda não tinha caído na real, apenas sentia muita dor no corpo, no peito, uma sensação de quase morte que eu nunca havia sentido na minha vida. E quando elas começavam a me abraçar e a dizer que sentiam muito, foi que eu percebi o que tinha acontecido comigo”.

O Portal Guará entrou em contato com a assessoria da UFMA, que respondeu: “por enquanto, a Universidade ainda não irá se manifestar”. Após os 180 dias de afastamento – que não possui prejuízo na remuneração -, o professor poderá voltar.

A denúncia

O primeiro depoimento às autoridades foi feito no dia 2 de fevereiro, na Casa da Mulher Brasileira. Na ocasião, a estudante conta que foi atendida por um policial homem, que desacreditou de partes de seu relato e a desencorajou a seguir com a denúncia. Posteriormente, ela juntou mais duas mulheres que também se dizem vítimas de Jadir para depor na Delegacia de Defesa Institucional (DELINST), da Polícia Federal, onde o caso está sendo investigado pela delegada Paula Santana. O suposto crime se enquadra em violação sexual mediante fraude e assédio sexual. O processo contra o professor corre em segredo de justiça.

A segunda vítima que prestou depoimento disse que o seu episódio de assédio envolvendo o professor ocorreu em 2019, quando ela passou a participar de sua supervisão como ouvinte. “Uma vez, eu tive que sair mais cedo. Na hora que eu tive que me retirar, e ele parou a supervisão, se levantou, foi bem no meu ouvido, pertinho de mim, e falou assim: ‘tu pensa que eu não percebi que tu passou a aula inteira me provocando, pegando nos teus seios?’. Depois disso, não tive mais contato nenhum com ele”, relata.

No depoimento à polícia, a segunda universitária fez questão de frisar que o professor se utilizaria de teorias da psicologia para cometer os assédios. “Eu me lembro que, na época, tinha muito medo da solidão. Era sempre uma pauta que ele trazia. Como se ele tivesse me ajudando. Isso faz a gente criar confiança nele. Ele usa um ponto fraco teu para se aproximar de ti. Hoje eu consigo perceber”, desabafa.

A reportagem entrou em contato com Jadir Lessa, que se posicionou por meio da seguinte nota:

Senhora Giovana,

Em resposta a sua indagação, tenho a esclarecer que fui surpreendido pela denúncia e, em
especial, pelo afastamento do exercício de minha função docente a qual sempre exerci com esmero,
dedicação e especial respeito a todos, ressaltando que nunca extrapolei os limites da cordialidade das
relações interpessoais e, principalmente, nunca me vali de minha função para obter qualquer proveito,
sobretudo, de cunho sexual.

Por fim, ressalto que sou defensor da liberdade de expressão e acredito que seu trabalho de
informar será exercido com responsabilidade plena, sem prejulgamentos que possam resultar em
minha condenação prévia ou execração pública descontextualizados da verdade a qual, certamente,
não é aquela constante da denúncia responsável por induzir a erro o magistrado determinou meu
afastamento do cargo que ocupo.

Cordialmente,
Jadir Lessa

Como denunciar

Denúncias sobre o caso Jadir Lessa podem ser feitas à DELINST, da Polícia Federal, através do número (98) 31315100.

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