sexta-feira, 26 de abril de 2024

A corrida de Sonia Guajajara para salvar a Amazônia

Sonia Guajajara em Brasília (Foto: APIB Comunicação)

Por Saulo Marino

Pela primeira vez em 15 anos o Acampamento Terra Livre, ato político de indígenas brasileiros em Brasília, acontecerá em um momento de tensão. Na última semana Jair Bolsonaro (PSL) chamou a reunião anual de “encontrão pago pelo contribuinte”, enquanto o Ministro Sérgio Moro convocou a Força Nacional para atuar na Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes no período que coincide ao evento, programado para os dias 24, 25 e 26 de abril.

“Nós queremos o melhor para o índio brasileiro, que é tão ser humano quanto qualquer um que está aqui na frente de vocês agora. Mas essa farra vai deixar de existir no nosso governo”, disse o presidente em um vídeo ao vivo nas redes sociais.

Uma das principais lideranças indígenas, a maranhense Sonia Guajajara, foi direta ao pontuar os equívocos e a falta de conhecimento do presidente. “É a primeira vez que ocorre comportamento antecipado de tentar impedir a chegada das delegações. [O decreto de Moro] É uma forma clara de impedir uma manifestação. Nós nunca tivemos financiamento com dinheiro público ou apoio de governo federal. Em todos os anos, fazemos uma campanha de arrecadação para promover o encontro e instalar o acampamento”, disse à Folha de SP.

A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), do qual Sonora é coordenadora-executiva, já tinha arrecadou R$ 75 mil, através de uma vaquinha virtual, até a publicação desta reportagem. “Seguindo a intenção de exterminar os povos indígenas do Brasil, o governo Jair Bolsonaro intensifica sua posição de quando ainda era parlamentar, quando afirmou em 15 de abril de 1998, que ‘a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país’”, disse a organização através de nota.

“Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado a livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500”, afirmava parte do texto da APIB.

A imprensa paulista especulou que a expectativa do encontro é reunir entre 4.000 e 5.000 indígenas, mas alguns veículos de comunicação já falam em dez mil pessoas. Nas redes sociais, lideranças como a própria Sonia publicaram convocações para “a maior mobilização indígena do mundo”. Os participantes começam a chegar em Brasília na noite de terça-feira (23) e permanecem até sexta-feira (26).

“Nós pretendemos instalar o acampamento na Esplanada dos Ministérios mesmo, porque não há motivo de a gente se esconder, já que são eles quem estão nos ameaçando”, afirma Sonia.

O propósito do encontro é fortalecer a resistência indígena e articular estratégias de luta em defesa da identidade dos povos originários e em defesa da Amazônia. O movimento também critica as mudanças implementadas pelo Governo Bolsonaro, como a transferência da Funai, que saiu do Ministério da Justiça e foi para a de Direitos Humanos, que tem Damares Alvez como ministra, e que o setor responsável pela demarcação de terras indígenas não seja o ministério da Agricultura, historicamente ligado ao agronegócio.

A mobilização também é contrária ao fim da Secretaria Especial de Saúde Indígena. “Eles dizem que temos de ser integrados para sermos cidadãos, mas não pedimos isso”, declarou Sonia.

A Revista Época divulgou que Caetano Veloso organizou um jantar em Nova Iorque para homenagear Sonia, que discursou na ONU sobre os riscos que representa o governo Bolsonaro aos indígenas brasileiros.

O jornal New York Times, em longa entrevista com Sonia, pontuou que “embora há muito tempo em perigo, a floresta está sob maior ameaça agora sob a presidência de Jair Bolsonaro, um líder populista polarizador nos moldes do presidente Trump”, que “agiu rapidamente para minar as proteções ao meio ambiente, aos direitos indígenas à terra, às organizações não-governamentais e basicamente a qualquer um que discordasse dele”.

Para a repórter Carol Gioacomo, que assina o texto, “se há esperança para a Floresta Amazônica e para países onde as autoridades ameaçam a democracia e as agendas progressistas, ela vive na determinação e poder de ativistas da sociedade civil como Sonia Guajajara”.

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