terça-feira, 8 de outubro de 2024

Sabores da infância

A primeira delícia que me vem à cabeça é o beiju enroladinho, com coco ralado, que era vendido, na folha de bananeira, na pracinha da Vila Bangu, no bairro Camboa, em São Luís, onde morei até os 5 anos de idade. Minhas tardes de criança eram bem melhores quando alguém lá de casa comprava essa delícia para tomarmos no lanche com café e leite. Aliás, café com leite, era o lanche mais recorrente da tarde.

Mas o que não sai da minha cabeça é o doce de leite em barra da Itambé que meu pai trazia semanalmente pra casa. Não sei falar porque, mas o que seu ele comprava, tinha um sabor especial e sem duvida era muito melhor!

Ainda na minha infância, lembro-me dos bombons multicoloridos que eu comprava na quitanda de dona Cotinha. O gosto era diferente porque eles vinham como prêmio de consolação. 

Explico: na citada quitanda tinha uma caixa de prêmios fabulosos, pelo menos para crianças…Na caixa, que era quase um baú do tesouro, continha desde anéis com pedras preciosamente falsas até uma enorme boneca: o prêmio mais cobiçado. Quem não ganhava os prêmios, não saía de lá sem ser consolado por uma guloseima doce e grudenta, que funcionava como jogada de marketing pra retorno do cliente, e adorávamos!

Na mesma quitanda de dona Cotinha comprávamos manteiga aos pouquinhos, enrolada no papel…manteiga (!), isso era uma prática comum. O que não era comum era comer margarina. Lembro que a primeira vez que provei foi na casa de meu avô paterno, com pão quentinho, à tarde num lanche especial feito por uma tia querida. A manteiga era Primor, e posso afirmar que ela não tinha o mesmo sabor das margarinas de hoje em dia.

Desse tempo, nada conseguiu tirar da minha memória gustativa o sabor do mingau de Cremogema que Maria fazia. Inclusive foi a própria Maria, que trabalhou na minha casa desde os meus 3 anos de idade, a culpada de eu largar de tomar mingau. Foi assim: um belo dia, estava eu brincando na pracinha, e ela apareceu com uma baita mamadeira dizendo “Ta na hora do gagau, Anne!”. Não tive onde meter a cara, afinal de contas eu já era uma mocinha de 5 anos de idade, e ser desmascarada em praça pública era uma vergonha. Bom, a mamadeira ficou de lado, mas o sabor da Cremogema se mantém vivo! 

A vedete da casa por uns tempos foi a Canjiquinha São Braz, que mamãe comprava na Lusitana. Comíamos ainda quente com direito a bastante canela. Mas gostoso mesmo era o leite tirado direto da vaca. Lembro que adorava ver o líquido fervendo, quase transbordando da panela, levantando aquela nata amarela. 

Tomávamos leite mugido na casa do meu avô, no interior do Estado. Lá ele separava a nata e batia até virar um creme tipo manteiga. Pra mim, aquilo era mágica pura!

E ninguém conseguiu fazer até hoje um bobó de vinagreira igual ao da minha avó materna. Ela está em outro plano desde quando eu tinha 6 anos, mas até hoje, comer vinagreira, é como entrar em contato direto com ela. É um portal mágico que me leva direto pro colo dela, tornou-se um artigo sagrado! E interessante, é que isso foi passando naturalmente pras minhas filhas, as duas são loucas pela folha azedinha. 

Mas o que não esqueço é que não tinha programa melhor que ir comprar bolachas com meu pai, numa fábrica que ficava no bairro Monte Castelo, aqui na ilha do amor. Papai escolhia as preciosidades e comprava aos montes e levava para meu avô, que revendia em seu comércio, no interior. 

Na fábrica comíamos a vontade muitas delas, mas a bolachinha d’água, quadradinha, pequena, crocante e sem nada dentro é que era a sensação. Essa a gente levava pra casa e comia mergulhada no café. Que mistura boa!

E por falar em mistura, e completar as memórias, quem nunca misturou leite Ninho, açúcar e farinha d’água? Mas, claro, que a mãe não podia nem sonhar. 

De uma coisa tenho certeza, nenhum sabor é mais intenso e delicioso que os provados na infância, pois nessa fase se come com os olhos, com a fome da descoberta e com a imaginação!

Anne Glauce Freire

É Comunicóloga e Terapeuta Integrativa, com foco em Reiki Tradicional Usui.

Pode encontrá-la no Instagram: @positivaravida e @anneglaucefreire

Se preferir pode seguir o canal Positivar a Vida, no Telegram: t.me/positivaravida

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